06 junho 2010

ADAPTANDO


Querendo ou não, o novo surge a cada momento. E, ainda bem que isso acontece para se fugir da monotonia do sempre igual.

Tudo está sempre em movimento como roda de um moinho invisível. Mesmo que não se perceba existe uma congregação de acontecimentos se sucedendo no passar das horas, alheios a qualquer jurisdição que se queira impor ou estipular.

Posso até dizer que esse desenrolar de novelo é uma conspiração invisível. Uma energia intocável, chamada destino, deve ter o comando, o poder de encadear situações, criar chances, desarrumar o estabelecido, decepcionar metas, dar marcha ré nos sonhos, trazer surpresas à revelia de nossa vontade.

A palavra mágica para sobreviver às novidades de cada amanhecer é adaptar. Adaptar o que se é e o que se tem no carro da montanha russa do cotidiano e enfrentar o sobe e desce que nos vira de cabeça para baixo, nos sacode, nos desperta, nos renova.

Adaptar-se ao novo requer maleabilidade. Deixa de ser boa escolha, resistir ao que chega sem aviso prévio. Por dentro e por fora, muitas vezes, se tem que praticar o contorcionismo.

E o mais interessante é que as mudanças vêm sempre amontoadas, acontece tudo ao mesmo tempo feito água de enxurrada, descendo morro abaixo. E a gente tem que encarar, para felicidade de todos e para o próprio bem.

Estou sentindo na carne os efeitos do novo. Confesso que relutei em aceitá-lo e tentei de todas as maneiras escapar do inevitável.

Acabei me rendendo, é óbvio, até por razão de entendimento e de submissão contrariada, diga-se de passagem.

Um par de óculos multifocais me colocou frente a uma nova realidade. Preciso usá-los e para tal, padeço no processo de adaptação. O grande problema é que sou uma pessoa urgente. Quero tudo para ontem. E sou, ainda, apesar dos anos, muito rápida. Pronto. Declaro em público as minhas limitações para deixar bem claro, o suplício que tenho passado para me adaptar ao novo e necessário.

Tenho que me conformar a olhar o que me cerca com muita calma, paciência (e põe paciência nisso!).

Nos primeiros dias eu quis jogar longe os tais de óculos. Parecia uma menina contrariada, reclamando, pondo defeitos no par de óculos. Ridícula. O que está com defeito é a minha visão.

Tenho que aceitar que chegou o novo, chegou a hora, é esse o momento de me utilizar da modernidade e voltar a enxergar com foco correto. As novas lentes me proporcionam campos variados de visão: longe, intermediário e perto, simultaneamente. Não preciso mais carregar três pares de óculos como se tivesse um arsenal de lentes dentro da bolsa.

Aproveito o tempo de repouso necessário, ocasionado por uma fratura indesejável e inconveniente, para me adaptar aos óculos. Por incrível que pareça, tenho vivido grandes emoções nesse novo convívio e vou descobrindo caminhos traçados em um novo horizonte me adaptando serenamente.

Isso serve para mostrar que não importa a idade para que o novo chegue. E tem gente que pensa que envelhece e se entrega placidamente à ação do tempo sem permitir novidade alguma. A gente só envelhece quando deixa de sorrir, quando reluta a aceitar o novo, quando esperneia para se adaptar, quando refuta as alternativas que, como já disse eu, aparecem para nos socorrer e ajudar a enxergar melhor.





Um comentário:

Dulce Miller disse...

Verdade querida, a idade tem a ver com a leveza da nossa alma e não com os anos vividos...
Também estou sentindo na carne os efeitos do novo... ainda estou me adaptando, mas o importante é que não tenho mais medo.

Beijos!!!