18 julho 2015

Perdidos e achados



Em 07 de julho


Minha querida
Porque és sagrada removeste, de mim, a tristeza.


Meu querido
Tristeza que acompanhava como uma sombra constante cada passo da alma.
E a emoção do encontro resgata o brilho de existir na redescoberta da alegria.


Em 10 de julho


Conheces um galpão? Pois um galpão sempre tem um pau a pique com um prego grande e enferrujado cravado meio de bico. No prego, sempre tem um chapéu velho pendurado, em desuso. Usado apenas nos dias de chuva para preservar o chapéu novo do peão. Pouco serviço até, porque não suportaria maior exigência.
O chapéu velho sou eu. Será muito mais eu quando partires e tudo ficar sem sentido. A não ser o galpão.


Galpão de fim de tarde com banco tosco onde a saudade se deixa ficar absorta e quieta, saboreando a ausência que tem sentido porque existe no vazio que a presença permitiu. A tristeza da ausência justifica a alegria da presença.



Em 17 de julho


Houve um tempo em que o sorriso não saía fácil e a lágrima, simplesmente não brotava...


Brotava a vastidão do vazio...Onde nada era tão importante como deixar o tempo escorrer, grão por grão, na ampulheta da vida - sem razão maior do que a de escoar-se no sincronismo do sempre igual.


Em 29 de julho


Não pode haver vazio maior.


Maior que o vazio da distância é a certeza do afeto na forma sublime.




Em 02 de agosto

Ontem, quando cheguei em casa, liguei para confessar o quanto fui injusto e despreparado ao fazer aquela malsinada colocação. Fui obrigado a desligar antes que alguém atendesse ao telefone.
Depois; pouco depois, ligaram para a minha casa. Desligaram antes que eu atendesse. Sei que eras tu. Pelo menos, senti isso com enorme alegria. Afinal, nunca nos permitimos ficar mal um com o outro.
Quando me foi possível - e logo depois o foi - voltei a telefonar mas o telefone estava ocupado – leia-se, fora do gancho – e assim ficou até às  2:30 da madrugada. Fui dormir duplamente mal, ouvindo o teu choro sentindo e magoado.
Dói muito te magoar e não quero fazer isso nunca mais. Alias, fiz o que fiz ontem porque sou muito trapalhão. Coloquei mal as palavras e a idéia que ficou em ti foi deformada. Não pretendi dizer o acabei dizendo. Perdoa-me, se for possível, também, se for possível, continua me amando.


Amando devagar e prá sempre; como um relógio de parede, velho e teimoso que estende seu pêndulo como um braço, num vai e vem constante na pretensão de ser eterno...
É claro que era eu ao telefone... Mas, não pudemos nos falar apesar das tentativas que, por si só, disseram tudo.


Em 02 de agosto


Quero que esta corrente faça do teu corpo. Não deixa de usá-la jamais.
Fico aqui, absoluta e absurdamente, só. E essa solidão demonstra como a minha vida, sem ti, não tem sentido.
Que o teu Deus abençoe e que nos permita a felicidade.


Felicidade decorrente da vida que desliza como uma corredeira, sem medo e com força, contornando as pedras e desenhando a silhueta da paisagem ocasional...


A felicidade que o teu retorno me trouxe se faça, também, presente em todos os teus dias.


Dias de luz e noites de sombra... inteiras e plenas apesar da tua ausência, ausência que não me deixa triste... ausência que me torna só. Mas, ligada a ti mais do que a tua própria epiderme.
Mas não estou em tuas células, nem no teu respirar... Estou plasmada na tua alma como imagem brilhante de felicidade.




Em 19 de agosto


Cheguei, agora, ao hotel, cansado, destruído afetivamente - te deixar sempre me custou muito - e irritado (perdi o vôo e o perdi porque perdi a hora) eu me permito perder a hora por ti afinal, é só por ti que faço isso e, ainda assim, não de todo, porque chegando a hora de ires embora me perturbo de tal forma que sou incapaz de exercer qualquer controle sobre mim mesmo.
Liguei e atendeste ao telefone com muito sono. Cansada também; nossos corpos sempre se cansaram muito; por óbvio, hoje mais do que antes e, percebendo que era eu, dissimulaste sem desligar. Eu deveria dizer: “Arruma as malas que amanhã vou te buscar”. Mas não o disse.
E isso me fez pensar.
Por ter compartimentado a minha vida não posso te ter na plenitude do meu querer. E o fracionar de que falo, decorreu da necessidade que senti de recolocar os pés no chão, após ter te perdido. Não poderia ficar o resto da minha vida à deriva. Era imperioso que voltasse às amarras; que disciplinasse o meu tão indisciplinado proceder. Optei por fazê-lo e, agora, percebo que errei novamente. As pessoas que pelo menos aquelas, como eu, só se contentam com o máximo -não podem buscar sua felicidade, trilhando caminhos racionais até porque, o racional está bem próximo do medíocre. A emoção, só ela é capaz de nos mostrar o verdadeiro sentido da existência. E a emoção não comporta, não tolera a adequação a uma conduta socialmente aceitável, o que me leva a concluir que a felicidade aquela que sempre persegui e alcancei e alcanço apenas contigo está em rota de colisão com o que é tido por justo nessa sociedade de carentes e hipócritas.
O problema é mais de ética do que de moral. Sendo aquela ciência desta, esta é mais abrangente do que aquela. E, do ponto de vista moral, o nosso sentimento é o que de mais puro existe. Sob o prisma da ética, nossa conduta impõe uma postura policiada e nada justa conosco. É da peça, entretanto!
O fato incontroverso, definitivo, sabido e consabido é que, apenas contigo eu chego lá sou feliz. Mais.   Será sempre assim.
Enquanto administro esse dualismo em mim, não deixa de me amar.
Vou descer para jantar. Mentira! Beber e, talvez, jantar.
Eu te amo muito. Demais. Demais mesmo.


Mesmo que a solidão e a distância fossem mais suaves e amenas não mudariam a constatação dessa realidade: o nosso amor existe e é nossa opção vivenciá-lo ou não. Não questiono o inquestionável. Sinto por ti o amor na essência pura.
O navio está atracado no porto e temos as passagens nas mãos é só embarcar...
Quanto as bagagens, é sempre dispensável carregá-las. Afinal, são tão leves as nossas almas e, o que as envolvem, se desintegra com o tempo...


Em setembro


A espontaneidade é capaz de truncar o relacionamento afetivo. Quando há amor ela brota e não se a controla porque, se assim for, estar-se-á desamando. O desamor aparente decorre dela, no entanto.
É um teorema difícil de equacionar. Ou se é espontâneo e gerador de sofrimento ou, não se é espontâneo e se desama.
Nós preferimos sofrer. E o fazemos porque somos contingenciados a amar. E amar da forma que nos é proporcionada pelo amor e, por via de conseqüência, expondo-nos ao que ele nos expõe. Os comuns não fazem isso e, simplesmente, não amam. Pensam que amam. Sua espontaneidade é controlada, nulificada. Inexiste. Assim, são felizes aparentemente e, na verdade, extremamente infelizes. É a sublimação do desamor.
Nós não estamos nessa, por isso somos felizes e sofremos como eles não serão nem sofrerão jamais.
E não é questão de opção, é oportunidade.


Oportunidade de nos vermos desnudos de tudo que atrapalha e impede a verdadeira visão do que somos.
Não existem mais véus encobrindo as nossas almas
A medida é o ilimitado de cada um.


Em outubro


Seria justo nos fosse oportunizado reconsiderar nossos erros e retroagir no tempo. Não teria te perdido e perdido, com isso, a oportunidade de ser feliz.
Foram tantos anos que nem imaginava não poder mais. Posso, entretanto. Posso e consigo de uma forma que jamais imaginei.
Hoje eu me perdôo porque te reencontrei. Reencontrei contigo a mim mesmo. Toda a capacidade que não tinha e imaginava ter.
Tenho a ti e, ainda que seja da forma que é, é o meu TUDO. Afinal, me foi oportunizado reconsiderar!


Reconsiderar que o tempo é agora e o lugar é aqui. Descobrir que crescemos e que os erros perderam-se como o tempo num passado distante. Com o reencontro o sentimento não se perdeu.
Foi oportunizado a nós, pobres mortais, compartilhar com a ironia dos deuses que, por coincidência, nos reaproximaram pelo prazer de assistirem o belo das emoções.


Em outubro


A idade da razão - ou da delicadeza - faz um amor mais profundo, sofrido e doce. Doce, como sempre foi. Sofrido, por contingências. Profundo, porque é amor de verdade.
A velhice tem, afinal, suas vantagens.


Vantagens que não só a velhice traz, mas que, também, o tempo, que se leva para nascer para o amor, nos ensina a ter.
É como  o trabalho de um ouvires na pedra preciosa:- lento, preciso e cuidadoso.
Assim, o amor é cultivado dentro de nossas almas com um requinte de detalhes e entalhes que o torna brilhante e especial e, apesar e além, do que é materialmente importante- o amor se destaca como um valor maior.
A coragem para amar nessa plenitude é de poucos... Talvez, a velhice seja a época da descoberta dessa verdade.


Em outubro


Pensava que sabia tudo. Vejo que nada sei, exceto que te amo de uma forma incontrolável, desesperada mesmo. Inconveniente para os comuns - afinal, o que não é comum, é inconveniente.
Mas é deliciosamente confortante na medida em que já não imaginava poder alcançar o que me fazes alcançar.


Alcançar um lugar ao sol, entre os escolhidos para o banquete do amor.
Eu te amo, menino bonito, na profundidade em que mergulho, com o fôlego de que sou capaz.


Em 11 de outubro


Os descaminhos a que fui conduzido quando te perdi, refletem o quanto errei ao perseguir as coisas com sentido menor. Parecia-me confortável, entretanto, lograr obter migalhas.
Quanto ao afeto, errei ao procurá-lo desvairadamente. Não encontrei, não poderia ter encontrado.
As coisas materiais são espantosamente fáceis de serem alcançadas. Confortam-nos e, até realizam. Mas são materiais e disso não passam.
O amor me parecia uma quimera - até porque esquecera que te amara - e, já não o buscava mais.
Pelos azares do azar te reencontrei; nos reencontramos. Senti a pequenez da minha, então, “felicidade” - senti-me pequeno frente a vida que sempre me contrariou muito- mas, inobstante, me conformei.
Afinal, aquela postura cômoda me fora imposta, impingida pelo azar da sorte.
E, te reencontrando, me fiz quase completo. Reorganizado e adequado no meu afeto, com os pés no chão.
A percepção - e, depois, a idéia - do que é bom, transparece para mim, hoje, cristalina, de uma claridade solar. E o bom é entregar minha vida para ti. Vida - leia-se, alma - porque a vida mesmo não posso entregar, já que ela não me pertence; gostaria de dispor dela mas, não disponho- e como demorei para me convencer disso e como sofri com esse dualismo!
Agora me deparo com essa realidade maravilhosa, mas que, embora maravilhosa, toca mal aos que nos cercam. Azar deles.
Fico conformado, vez que estou no exercício regular de um direito meu que ninguém pode obstar, por mais inconvenientes que isso lhes cause. O direito de te amar e a não exigibilidade de outra conduta.
Faço-me feliz porque me fazer feliz ao permitires que eu te ame como  te amo. E te sou muito grato por isso.


Isso que nos invade o peito, esse sentimento categórico e forte é o que nos faz mais humanos, é o que dá sentido as nossas almas; - andarilhas andorinhas que repousam no ninho carinhoso que encontraram, enfim, após vôos errantes.


                                                                                                      Em 24 de outubro
                                                                                 - Mesmo bar –(aquele da minha última angústia na tua presença.)


 Raciocinava sobre a paz que tenho sentido. Paz de alma. Paz comigo mesmo, aquela que me permites ter e sentir.
O dia a dia nos carrega e faz com que, no mais das vezes, não nos detenhamos nesses subjetivismos. Não nos permite pensar sobre nós mesmos. Não nos faculta partilhar e conhecer a intimidade de nossas convicções; aliás, não admite termos convicções.
Pois a paz que agora sinto decorre de ti. Dizer isso é enveredar pelos ásperos caminhos do desnecessário absurdo, já que, o que, em mim, não decorre de ti? Tudo decorre, por incrível que possa parecer a outros que não nós mesmos.
Ela é fruto do mais maduro querer; do amor, na forma sublimada que poucos, muito poucos, logram sentir. Tranqüilo, envolvido e envolvente. Não obstante, pacífico porque duradouro; eterno.
Aos 25 anos não imaginava te amar tanto assim. Imaginasse, não teria te perdido por tão longo tempo. Mas não fui imbecil ao não imaginar; fui, apenas, o amante com 25 anos. A compreensão dessa limitação se não me conforta, me conforma porque, afinal, te reencontrei aos 40 e me permito compreender e assumir os meus desajeitados 25 e as limitações que deles me decorriam.
Não sei se me resta muito ou pouco tempo. O certo é que algum tempo me resta. Terá que restar. E nesse tempo estarei te amando com a tranqüilidade que me é dado sentir.
E consigo abstrair esses 14 anos que pensava serem de derrota. Eles passaram e nos calejaram, mas, hoje, faço de conta - e me permito fazer de conta - que eles não passaram. Reencontrei-te. Não passaram!
Não tivemos os filhos que queríamos ter. Mas a verdade é que me dás muito mais do que um filho teu me poderia dar-me dás vida - não a efêmera - mas, a vontade de viver para ser, afinal, feliz.
Eu te amo, também, por isso.
Chega a ser constrangedora a necessidade de dizer e repetir uma verdade tão primária que, sua enunciação faria corar o próprio conselheiro Acácio; eu te amo com toda a força do meu ser e de uma forma sublimada. Não é demais, entretanto, repetir. É acaciano, mas, não é demais. Afinal, consigo sentir isso e dizê-lo.
Não por ser narcisista, mas, por egoísta - que acho que sou - tenho a medida do teu amor por mim. Aceitas-me assim como eu próprio custo a me aceitar. Não sei se seria tão digno assim contigo...
No mais a vida continua. Agora, parece que com mais pressa. Será que o teu Deus está me surrupiando o tempo de viver? De viver logo o tempo de ser feliz? Espero que não.
Sinto uma saudade imensa de ti. Absolutamente imensa. Não é vazio, é necessidade. Não é ansiedade, é desconforto.
Eu te mereço; sei que te mereço. Nós nos merecemos.
Fico pensando como a vida não foi justa conosco e me dá vontade de chorar (vontade nada, estou chorando). Não posso continuar escrevendo, senão todos nesse bar vão descobrir que sou chorão - vão descobrir o que só tu sabes.
Eu preciso demais de ti, pela razão quase singela de que te amo. Na paz que me permites ter com a força de que não sabia ser capaz.
Devo muito a ti por tudo isso. Por ora só posso agradecer.


Agradecer? A mim? Não há o que agradecer. A paz que sentes é tua, é filha da tua própria capacidade de reconhecer o teu encontro com a face perdida no espelho do tempo. Quando se tira um velho amor da gaveta, tudo pode acontecer.
O tempo não nos foi roubado... Não houve perda, houve só um instante de vácuo, como uma longa noite depois que o sol se pôs no horizonte.
E a escuridão que se fez, foi o derramar do adubo fertilizando o terreno onde despertou a raiz do que estava adormecido.
E o sol voltou a brilhar.


Em novembro


A solidão é massacrante. Ela nos traz a todo o momento a exata dimensão da nossa incapacidade. Mas, nos faz companheiro de nós mesmos já que nos aproxima, conscientemente, das nossas limitações. Embora não queiramos admitir, somos limitados. Extremamente limitados. Contingentes e tristemente incapazes.
Não sei se o momento feliz decorre do momento infeliz ou, aquele deste. A minha experiência de vida mostra-me que a tristeza esteve sempre mais presente do que a alegria. Mas essa é apenas a minha experiência de vida. Vale nada na avaliação da situação macro.
Tenho sido feliz ultimamente; mais do que era. E por um motivo que há muito não experimentava. Aí chegou um gaiteiro barulhento que não me permite mais pensar - mentira - pensar, eu penso sempre, em ti.


Em ti, o ilimitado do sentir e falas em limitações?
Somos como vasos de argila onde se acumulam as torrentes do rio da vida. E derramamos transbordantes o que é maior do que a nossa capacidade de guardar, de absorver!
Extravasamos amor, um pelo outro, sem comportas cingindo nossas pobres misérias, nossa imensa vontade de ser feliz!


Em novembro


Não se mostra razoável, suportável, sofrer mais. Parece sofreguidão. Não é; é falta. Não é sina; é azar. Azar de não ter, no tempo certo de ter, o que se quer. De querer o que é indisponível. De não ser, também, disponível. De, simplesmente, não ter tempo ou, em o tendo não saber o poder usá-lo. Enfim, uma lástima!
E o tempo não para de passar. O relógio não quebra e, funcionando nos achata, deprime, diminui e quase inutiliza. Uma lástima! É a vida. A vida, tão somente a vida.
A felicidade - tal como a concebo - eu consegui ter. Consigo ter. Conseguirei?
A felicidade - o bem maior - sempre foi perseguida por mim. Em raras ocasiões a encontrei, sempre com muita dificuldade e trabalho. A infelicidade me acompanha com espantosa vocação. Anda ombro a ombro comigo. Não me lamento por isso. É cria de mim mesmo e, por tanto, não posso relegar o que foi gerado por mim.
E o pior ou, seria o melhor? O melhor é que, para mim, não há meio termo. Não há empate; ou se é feliz ou, infeliz. Mas, no mais das vezes eu sou no somatório, infeliz. Absurdamente infeliz. E, contigo sou supinamente feliz. E, já te disse, te agradeço por isso.
Não dou, não posso dar, não sei dar o conforto que mereces, não por ser incompetente, que sei ser, mas por simplesmente não saber ser capaz. A dor é minha, só minha.
É dificílimo para pessoas que, como eu, que pensam poder tudo, não poderem fazer feliz a quem amam. O fato de sermos contingentes não nos absolve. Aliás, sequer nos consola. Faz-nos absurdamente infelizes. É ilógico? Não. É absurdo. Absurdamente ilógico, porém real. Palpável, contingente, lógico. Lógico à luz da nossa mediocridade. A mediocridade no sentimento é a mais torpe das mentiras íntimas. Ela nos faz brilhantes quando não o somos, contentes quando estamos tristes, em fim, nos faz parecer ser o que não somos.
Jamais consegui viver com a mediocridade. Sempre procurei o que tive e que perdi, no campo do afeto. Não fui feliz, claro que fui infeliz, melhor do que ser medíocre.
Poderia, tu sabes, não ter perseguido o teu encanto. Poderia ter relegado a um plano secundário o nosso eventual afeto que, para mim, aflorou no teu primeiro telefonema. Poderia, buscasse eu me manter na mediocridade do sentimento sem sentido. Não posso. Não me foi possível, em se tratando de ti.
Vou à luta. Não é fácil. Aliás, é dificílimo. Sem qualquer munição, apenas com a minha bandeira: a do amor.


Amor que, também, é minha bandeira. Eu, também, estou nessa luta. Respaldada na verdade do sentimento, agarrando com unhas e dentes a chance de ser feliz, ao menos, nesse tempo - já que a vida solapou os sonhos que tive, num passado que se desintegrou na conformidade que assola, esmaga, transfigura.
Como Fênix, renasço das cinzas com a força dos que querem alcançar um lugar à mesa dos escolhidos. Sofrer faz parte, mas o prêmio maior eu já tenho: - o Amor!
Lutar por ele é confortador. É a grande recompensa.


Em 27.11.88


Estive, até a pouco, rodeado por pessoas, coisas e semoventes, todos do meu afeto. De certa forma, quem me rodeia procura me agradar. Não por interesse, mas por consideração. Não obstante poucas vezes me senti tão só. Absurdamente só.
Pensei em beber alguma coisa, mas não o fiz. Tenho que me resolver na minha solidão por mim mesmo, sem ajuda ou conforto externo.
Como eu e, a par do afeto que sei seres cercada pelos teus, deves estar, também, te sentindo só. Como eu confortado na minha, tu deves estar resignada na tua solidão. Ambos adequados a nossa inexorável contingência.
Tenho na retina, presa, a tua imagem. O teu olhar choroso que tanto amo. A falta que me fazes é indizível. A pequenez a que me vejo cingido quando longe de ti é incrível. E, por mais irônico, que possa aparecer, a tua ausência decorre da minha opção. Não deveria, pois, me queixar, mas me queixo porque é o que me resta fazer.
Fico pensando na espantosa vocação que tenho para participar e patrocinar despedidas. Foram tantas contigo, que perdi a conta. Todas sofridas. A primeira,  agora no nosso reencontro, foi na rodoviária. Choraste e aquilo me emocionou. Olhaste pelo vidro traseiro do taxi e, balancei. Voltei para casa rememorando tudo o que acontecera conosco naquele dia e me vi perdido; alegremente perdido no amor que reaparecia para mim. No amor que pensava não ser capaz de sentir.
Tiveram outras despedidas. E outras e mais outras. Todas sofridas. Umas mais do as outras. Parece água escorrendo por entre os dedos que, por mais apertados que estejam entre si, são incapazes de segurar o líquido que teima em escorrer por fendas que nos parece invisíveis.
E as despedidas continuaram a trilhar o caminho azarado do meu sofrimento. Posso narrar, uma a uma, com riqueza de detalhes. Seria, entretanto, cansativo para ti ler tudo o que, tenho certeza, tens vivo na memória.
Mas, e até porque já vai longe essa digressão, falo da última, que não será a última; a de ontem. Não posso tirar da minha visão a tua imagem, o teu olhar, tua expressão de desalento. Não se afigura justo, nem mesmo razoável, que um amor assim tenha que ser tão mal tratado, que judie tanto de quem ama. Não é aceitável, sequer. Vou ter que dar um jeito nisso e conto com a ajuda do teu Deus.
Passei anos procurando a alegria perdida. Encontro e, abatido, quase desencantado, a deixo fugir de mim.
Sempre te amei, embora não devesse medir o tempo do amor, infinitamente. No obstante, conosco, as coisas são ditas sem falar. É o afeto na sua forma mais sublime. Pouca coisa machuca, não nos cansamos, jamais é infinito.
Se Deus me deu essa força capaz de te fazer amada assim, terá, ate por uma questão de justiça, que me dar condições para vivênciar esse amor.
E estou aqui, triste e só. A noite está muito parecida, claro que do ponto de vista climático, com aquela da semana passada, a do sábado ( aquela do beijo na esquina e do banho que me deste quando saímos do restaurante e balançaste a árvore ). Muito parecida. A diferença é que não te tenho comigo. E põe diferença nisso!
Ponho-me a pensar, por conseguinte, naquele fim de semana. Na minha lua de mel. E me pergunto: será que me foi reservado viver de recordações? Não, não pode ser.
O que quero ver claro para mim é que, contigo não me basta conjugar o verbo no passado se não é possível conjugá-lo no futuro, até porque isso independe de nós, tenho que assumir sua inunciação no presente.  Como fazê-lo? Não sei. Sinceramente, não sei...
E, enquanto penso se posso fazê-lo, vamos aconchegar nosso amor na resignação de nos termos, ao lado um do outro, como temos nos tido.
Eu sei que, a par disso, jamais tive alguém que me fizesse tão inteiro, realizado e feliz. Tu, de resto, sei seres feliz comigo, mesmo nessa contingência.
Sempre achei exagerado alguém dizer que “adora” alguém. Não é exagerado. Eu te adoro. Adoro-te mesmo. Muito obrigado por me permitires te adorar.


Adorar é uma palavra forte, como forte é o que sentimos um pelo outro.
No poema, digo tudo...

Trago comigo
a tristeza
de um ancoradouro
que vê chegar
e que vê partir.
É sempre um lugar
onde aportam os sonhos
e se enterram as ilusões.
Há algo de luz e sombra
no som das águas
batendo no caís.
É como um gemido do mar
que traz e que leva.
Ficaram ali
minhas mãos estendidas
na espera...
Ficaram ali
meus braços caídos
na silhueta alquebrada
por tantos adeuses...  


Em 25 e 26.12.88


Não me é possível parar de pensar em ti. E de chorar, por via de conseqüência.
A coisa parece despauterada, desproporcional, maior do que se tem como possível. Não é, entretanto, posto que assimilada.
Não sabia ser capaz de tanto amor. Não sabia, de resto, poder suportar tanta falta. Não conhecia, enfim, os meus extremos.
Não me imaginava acovardado como agora me sinto. Incapaz de um gesto mais arrojado, ainda que, abrupto e irreversível, para ter ao meu lado a pessoa que sei amar.
E esse me conhecer melhor faz com que, conformado sinta pena de mim mesmo e perca muito do orgulho que sempre tive.
O Natal acabou de passar e percebo que passou como um dia qualquer, mergulhado no mais comum dos dias comuns. Não se debite isso ao meu espírito pouco, ou quase nada, religioso. Debite-se ao marasmo morno que é a minha vida sem ti ao me lado.
Até te reencontrar não me apercebera dessa realidade. Os meus dias eram cheios. Trabalhava muito, estudava alguma coisa, tratava de ganhar bens materiais. Tu ainda não existias para desmascarar aquela hipocrisia inconsciente. Agora, a tua presença traz  a realidade grotescamente óbvia do bem maior em confronto com o conforto do bem menor. Fico com o bem maior, a despeito do sofrimento que ele acarreta. Fico ao lado do amor que não esperava ainda existir em mim. Fico contigo enquanto me aceitares.
Há pouco o telefone tocou; corri para atender na certeza de que eras tu. Não era. Era um cliente que queria tratar de assunto de somenos importância.
O telefonema me fez sentir o tamanho do meu afeto por ti. É um amor que me faz infantil, piegas, quase ridículo. O fato de soar o sinal do telefone me põe na tua presença, furtiva e silenciosa, discando para dizer que me amas e, isso, me faz extremamente feliz.
É pouco? Claro! Mas é o que tenho e, para mim, é muito porque vem de ti.


Vem de ti, a coragem de amar. Eu olho para dentro de mim e te descubro vivo nas minhas entranhas. Tuas raízes estão plantadas nos meus sentidos numa troca de seivas, gerando esse amor.
Estamos inseridos no próprio contorno que a vida delineou com lâmina afiada e que é o equipamento único que carregamos para chegar lá... Chegar a descoberta  da verdade, do que realmente vale nesse vale de lágrimas.
Para mim, o que importa é receber de braços abertos, a vontade de viver que me restituíste com o teu amor e o teu carinho.
Agradeço-te, infinitamente!


Em dezembro de 88


Como um colegial, ouço música e penso em ti. Veio a minha mente a tua imagem triste pelo desalento da nossa impotência. Era saudade prematura, sofrimento infindo.
E me ponho a chorar e percebo o quanto é bom chorar por ti. Pelo amor puro que sinto por ti. Pela falta incontrolável e incontrolada que me fazes.


Fazes, também, tanta falta quando retomo a minha realidade cotidiana e não estás inserido nela palpavelmente. Tantas coisas quero repartir contigo e encontro o vazio quando viro a cabeça para o lado. E o meu riso não tem eco e os meus olhos não refletem. Guardo-te na memória do coração enquanto espero o momento de te rever.


Em janeiro de 89


NOSSO BOLERO
Era madrugada da noite em que falamos, depois de treze anos, por telefone. Vinha de uma “festa” que, ao contrário do que imaginava não foi festa. Foi uma das tantas coisas sem sentido que experimentara ao longo de tanto tempo. Com efeito, não dera a importância que, necessariamente, deveria ter dado ao teu, ao nosso, telefonema. Pensava ter uma coisa mais presente e, consequentemente, mais importante, posto ser presente e palpável. Fico inconformado com essa mania de que ter, obter, conseguir é o mais importante. Não era.
Por não importante, por vazio, saí cedo. Parei em algum lugar (que não é algum porque sempre saberei qual é) para lanchar. Começou a tocar essa música que jamais tinha ouvido. O teu telefonema; cada palavra, frase, hesitação e espera vieram até mim com imensa clareza. Veio junto a importância daquele telefonema que me abrira a possibilidade de te ter de volta, de voltar para onde nunca deveria ter me permitido sair.
A música dizia tudo, mas acabava em despedida. Achava que seria assim, caso voltássemos. Não acho, não quero e tampouco vou me permitir que isso aconteça.
Por isso, que pode ser piegas ou pode ter sido, é que gosto dessa música. Ela fez correr, depois de anos, a primeira lágrima pela minha face.


Face que adoro. Lembro de vez em que ouvimos juntos essa música... Estávamos na estrada e começou a tocar no rádio do carro. Ouvimos calados, quietos com lágrimas rolando pelo rosto e os olhos marejados d’água na  imensidão do afeto.
E daí, dá vontade de comer pastel de botequim de beira de estrada.


Em 20.01.89


...O melhor que alguém poderia ter eu estou tendo contigo, naturalmente. Envelhecer ao teu lado. E, não obstante, me sinto gratificado por isso. Não consigo me sentir envelhecido e isso não é milagre ou desvario. É amor. É saber poder ter o que já não imaginava vir a ter.
Sou e serei grato a ti por isso sempre.


Sempre e desde quando...

Quando foste gerado
por entre as estrelas
num facho de luzes,
um coro de anjos
vibrou por todo o universo...
E, em todas as vezes
que te encontro
ouço a melodia suave
que embala o nosso amor
num cortejo de brilho, num tributo de paz!
E tua vida abençoada
transforma
- a minha vida
numa cascata de risos
por te fazeres certeza
e, a mim,
a mais feliz das mulheres!


Em 30.01.89


Resolvi escrever numa tentativa válida para desanuviar toda a angústia que tomou conta de mim, desde ontem, a partir do momento em que percebi (ou parei de mentir para mim mesmo) que perderia, em breve, a tua presença. De que não poderia mais encontrar, nos fins de semana, o teu olhar. De que me seria negado o direito sagrado de me aventurar a trocar uma palavra, uma que fosse, contigo aí na praia. Estava vindo embora.
E o conhecimento que decorre desse raciocínio, que a qualquer um pareceria piegas, é manifestamente claro e inequívoco: te amo mais, muitíssimo mais do que imaginava te amar. E isso não é saudade, é a percepção que, por teimosa, se fez convicção, de que sem ti por perto as coisas não têm o menor sentido.
Já não me puno mais, depois da conversa franca que tivemos, pelo fato de que o vazio imensurável que fica em mim quando te deixo, é fruto da separação consentida que permito nos aconteça. Frusto-me é verdade, por ter descoberto esse afeto, tardiamente, para te fazer feliz como mereces. Regozijo-me, entretanto, por me sentir completo no teu amor.
O certo é que quando há amor, no volume desse que experimento, há a necessidade de se estar ao alcance do ser amado, custe isso o que custar. Nesse final de semana me fiz feliz te tendo por perto.
E aí tudo acaba porque venho embora.
Fico imaginando fórmulas mirabolantes para te trazer para perto. Transmudo-me no mais grotesco dos egoístas. Tudo porque te amo e sei que poder contar com o teu perdão. Não quero contar, no entanto, com o teu sacrifício, porque isso não é justo e nem razoável.
Pois agora, frente a essa desmedida falta que sinto de ti ao meu lado, percebo, vejo justificada e amo essa incontrolável vontade que tens e exercitas de me brindar com coisas a todo o momento. Não é para imaginar o meu olho brilhando de felicidade e, tampouco, para provocar a minha ridícula curiosidade; é para te fazer presente nas coisas que me dás. Mas é, lamento dizer, insuficiente para mim. Preciso por o meu olho no teu para te sentir comigo e, via de conseqüência, me sentir realizado... Quero, pretendo e vou exigir ter isso.
Merecemos Ter.
De tal sorte, não espera eu te convidar para estar comigo. Quando sentires vontade, vem. Eu, a meu turno, irei sempre que me for possível ir, até porque não é justo postergar o exercício do direito de ser feliz a quem ao mesmo faz juz.


Justifica-se o desejo de estar perto, de estar junto porque já conseguimos o máximo: nos redescobrimos como almas gêmeas e reconhecemos o território da distância que, por escolha minha, se interpôs entre nós.
Na juventude, os pesos e medidas, são leves e inconseqüentes. No tenro da idade não avaliei  o significado do grande amor. Tinha a ilusão de que, ainda, iria encontrá-lo mundo afora.
Apesar de saber que tinhas caminhado, em mim, por todos os labirintos e que tocaste na minha alma com as mãos peritas de quem sabe das coisas, quis, a ingenuidade e o medo, que eu desse um basta nas crises de ciúme que aconteciam mais constantes do que o desejado.
Pensei ser fácil seguir minha estrada, sem o teu jugo. E fui à luta, tentando convencer-me de que assim tinha que ser.
Descubro-me, hoje, graças a ti, como uma inveterada rebelde sem causa e assino minha confissão de erro.
Cometi um erro de lesa alma e pago um preço muito caro por isso: - não posso voltar atrás no tempo que desperdicei “brincando” de viver.


Em 03.02.89


  Gostaria de estar contigo nesse momento e me renovar na felicidade que irradia da tua existência.


Existência que, agora, tem sentido!


Em 06.02.89


É inexorável sentir saudade. Saber ausente quem jamais poderia estar. Sentir longe quem está dentro de nós, misturada ao nosso sangue, perfumando o ar que respiramos. Distante, no entanto, do nosso toque de mão, da nossa visão presente.
O irônico é que, embora ausente, a pessoa de quem se sente saudade e está incorporada a tudo o que fazemos, pensamos e partilhamos. Sua imagem baila em nosso pensamento como purpurina incandescente que teima em brilhar sob qualquer ângulo que se a veja.
Quando somos assolados por esse sentimento incoerente, percebemos o quanto somos minúsculos na nossa pequenez contingente, longe do amor que temos.
Misto de alegria e triste é dadivoso sentir saudade, pelo simples fato de que a sentindo sabemos estar amando. A idade da razão, ou a razão que decorre da idade, permite-nos entender, dentre tantas outras coisas, essa realidade e até aceitá-la, ainda que, com reservas.
Mas, na medida em que a saudade nos traz a percepção de que já não temos aquilo que tínhamos, traz-nos, também, a certeza do seu retorno. Essa assertiva nos faz pacientemente conformados, porquanto, e aí a delicadeza do ato, sabemos do sentimento mutuamente compartilhado.
E resta um única convicção: a de que tudo será, no oportuno tempo, recompensado com a volta da pessoa amada. A visão dos gestos e palavras passará do plano da lembrança para o, do palpável. Seremos felizes frente a gratificante presença.
A Segunda-feira de Carnaval passa arrastada, vagarosa e quase sem nenhum sentido. E com o transcorrer dela aumenta a distância física entre nós. Estreita, com certeza, entretanto, os laços do nosso afeto.
Não me resta alternativa; vou esperar. E o farei conformado por só poder te Ter assim. Melhor, infinitamente, melhor do que não te ter.


Ter a chance de voltar depois de cada partida, nisso a grandeza do amor.

Tão rápida
foi a tua partida
que deixaste
tuas mãos
aprisionadas
na minha pele
e levaste
contigo
o meu olhar
que ficou preso
nas entrelinhas
da tua alma!


Em 16.02.89


Se sou feliz contigo? A pergunta é por demais de resposta óbvia. Quase acintosa. Mas respondo: Sim, sou feliz.
Já não sabia, até te reencontrar, o que era ser feliz. Hoje sei e, negando a minha incapacidade nata de ser didático, seria capaz de dar conferência sobre o tema. Afinal, a minha felicidade decorre do maior amor que o mundo conhece e jamais poderá conhecer um igual.


Ser feliz é saber que a arte difícil de viver é bonita e breve, por isso queremos atingir o infinito na limitação do hoje.
Ser feliz é permitir que a liberdade de amar não seja medida, pesada, cingida é deixar correr livre o espírito, como um cavalo a galope no espaço do campo sem o constrangimento da cerca...
É deixar a porteira aberta!


Em março de 89


“É preciso nascer de novo” – mensagem de Deus a Nicodemos. Era imperioso renascer – mensagem do meu subconsciente para o consciente. Mas não era possível fazê-lo porque não dependia de mim. Carecia de uma força exterior contida em alguém.
E, por sorte, a força externa, que já se afigurava como alienígena pela distância do tempo, aparece, de repente. E me faço feliz.
É muita sorte, só que não a aproveito como deveria. Envolvo-a em  angústia, ansiedade e pieguices desaproveitadas. Uma lástima! Faço-me e sou feliz, entretanto.
Não se merece uma Segunda chance quando não a calentamos na lembrança das nossas frustrações passadas.
Eu não sei, definitivamente, te amar. Azar o meu. Amo-te, no entanto, como jamais alguém poderá fazê-lo; desajeitado, disforme no afeto, pretensioso no sentimento mútuo. Amo-te, enfim.


Enfim, me reencontras e não consegues conviver com a idéia de dar-me um pouco da tua companhia e todo o teu amor. Não te contentas com isso e julgas que me amas mal... Se te cobrasses menos, serias mais feliz. Não exijas mais de ti mesmo. Apenas, vive!!!


Em 11.04.89


          Minha querida
Apenas para ver o teu sorriso.


Sorriso que volta ao meu rosto com as rosas, o cartão e o teu olhar carinhoso.


Em maio de 89


Estou aqui fora e as coisas harmoniosas. O meu projeto dá os primeiros sinais de que dará certo ou, pelo menos, não de todo errado. E isso me faz contente e me envaidece.
As pessoas emitem opiniões favoráveis e fazem assertativas otimistas. Dentre elas, uma que amo muito: o meu pai. Percebo o que ele tenta fazer imperceptível – o orgulho que lhe decorre de minha realização pessoal. Realização que ele pensa, ledo engano, que alcancei.
Vejo flagrante a imodesta condição de se apresentar como meu pai e, isso gera orgulho, também em mim, por ser filho desse velho tão simples e tão despretensiosamente bom.
Efetivamente, tenho que aprender a falar com Deus para agradecer várias das coisas tantas que Ele me tem dado e proporcionado.
Uma delas, a principal, é a forma desarrazoada de sentir amor.
Pois, me sinto aqui, agora, quase feliz. Quase, porque para mim, não é possível ser feliz sem ti. E tu não estás participando disso comigo. Falta a tua presença física. Falta-me o saborear a crítica de quem inspira tudo. Falta..., tão absurdamente, me falta.
Convenço-me de que é assim que tem ser e, ao mesmo tempo, me desconvenço. Não sei viver com a dicotomia que criei. Sei que tenho que conviver com ela e me amarguro e me consolo.


Consolo é saber que a “musa” inspiradora sou eu pois sei que, se chegaste até aqui na tua caminhada foi porque eu estive ao teu lado nos primeiros passos.
Os alicerces foram forjados por teu pai na tua infância e, na tua juventude fui companheira incentivadora, estimulando a tua realização para um futuro que, hoje, vejo à distância, concretizar-se.





Em 17.05.89


Agora de manhã, vindo para o trabalho, pensava em ti. No dia do nosso reencontro. Nunca te vira tão bonita. Por dentro e por fora. Por fora, prescindindo de produção; por dentro, desnuda de preconceitos e ansiedades. te redescobri como te deixei e descobri nunca ter deixado de te amar, malgrado os anos vazios que se passaram. E me fiz feliz pelo nosso reencontro, pela possibilidade de voltarmos a caminhar juntos.
Hoje- e lá se vai quase um ano- estás mudada. Vejo-te mais enfeitada por fora e, por dentro, angustiada por não te convenceres de ter sido perdido o tempo que passou. Ansiosa por querer recuperar o irrecuperável, porque inexoravelmente passado.
Não se pode voltar de onde nunca se foi. É possível, e no nosso caso, imperioso percorrer um caminho cujo trajeto não se conhece. Trilhá-lo mesmo no escuro, sabendo iluminados os nossos passos a luz do afeto. É do que preciso te convencer não por, simplesmente, te convencer, mas por ser essa a nossa realidade. E ademais, porque não nos resta muito tempo. Convencimento a que chego depois de cotejar o tempo que passei sem ti, quando o relógio arrastava seus ponteiros e, o de hoje, quando te tenho, em que os ponteiros parecem ser turbinados, tamanha a velocidade com que voam. Triste realidade.
Esse é o tempo de sermos felizes. Não nos é dado, no entanto, por contingências outras, simplesmente, sermos felizes. Temos que nos fazer felizes. Essa verdade tenho que te fazer aceitar.
Houve um tempo em que sonhava quimeras e acordava com a vastidão do vazio que produzira para mim mesmo. Consolava-me porque o consolo é a única terapia para curar o desalento.
Hoje, graças a tua presença, já não preciso mais me consolar. Realizo-me no, aparentemente, pouco, mas que, na realidade, é muito, convívio que me proporcionas, até porque, sempre será muito ter alguma coisa, por minúscula que seja, para quem tinha nada. Disso, também, tens que te convencer.
É dado a mim, te conhecer profundamente. Compreender as tuas ansiedades que deságuam sob forma de angústia. Tenho sido parcimonioso com teu estado de espírito, graças a essa compreensão que de corre do amor infindo que tenho por ti. E, assim como me faço perdoar pelas minhas falhas e omissões, relego ao plano da ansiedade, o desconforto de que és tomada ao não teres de mim o que esperavas ter.
Noutro dia me pediste para não usar mais o chavão que tenho usado (e sempre o fiz por entender ser verdade) – que o nosso amor se basta. Pois essa colocação, posta por ti em tom de severa advertência, trouxe-me uma realidade: perdeste o romantismo que sempre, no passado de 15 anos, te foi tão peculiar e absurdamente lindo e adequado. O romantismo através do qual te fizestes presente na minha memória. Estás mais dura, cética e, a seguir assim, acabarás desencantada, deformada. Fruto do confronto da tua doçura com a tua disparatada busca do tempo perdido.
Tenho certo para mim que te amo da forma mais profunda. Reconheço insuspeitas as tuas dúvidas e o teu desconforto, tua  frustração. Sei da tua inteligência e do teu amor por mim. Estou certo de que haverá um tempo em que isso passará.
Então, poderei te fazer feliz. Pretensão de quem ama.




Pretensão de quem ama e quer dar mais e mais ao ser amado.
No espelho em que me enxergas, também, te vês refletido. A angústia, o desconsolo, a insatisfação são nossos.
Estamos no mesmo barco, somos passageiros e cúmplices que desafiam o tempo e enfrentam juntos as conseqüências. Não temos outra opção, visto que, sabemos que nos amamos como poucos ousam.


Em 19.05.89


Nada poderá abalar a paz, fruto do afeto mais puro e da ternura conseguida após anos de vida sem sentido.


Sem sentido até sermos tocadas pelos deuses...

Há encontros
que não terminam
com a distância,
que não acabam
com o tempo...
Continuamos
a nos encontrar
pela vida afora
porque levamos
em nossas faces
as marcas indeléveis
dos risos e lágrimas
que dividimos juntos.
Carregamos nas mãos
nossas carícias mais puras,
os sonhos, os ideais
que permanecem
enquanto, em nós,
houver vida.
Basta que nossos olhos
mirem as alturas
para estarmos, os dois,
de novo,
sentados numa estrela
rememorando,
entre as nuvens,
o que nunca
deixou de existir:
- o nosso encontro
marcado pelos deuses !



Em junho de 89


Aqui, já te escrevi isso, é o lugar de sofrer por ti. Mudo o conceito; é o lugar, de resto, de conviver contigo.
Comprazo-me de estar ao teu lado. Irritado e contrariado.
Afinal, me sinto vivo, vivíssimo no amor infindo, fugidio, entretanto, que sinto e sempre senti por ti.
Só se sofre quando se ama.
Outro dia, numa dessas noites de solidão por ti, vim a esse bar. Beber. Beber, sentir saudade e sofrer, amainando o sofrimento com a convivência de terceiros estranhos a tudo, graças a Deus.
Hoje, com o vagar que os anos me impõem - imaturo, entretanto, como me vês - já posso sentir e me comprazer com o sentimento que me foi legado sentir. O sentimento na forma e pelo modo mais afetuoso e perene que encontrou para existir.
Mas, falava em sentimento e sentimento não é coisa de se falar. É coisa de se sentir e compartilhar  dividindo. Paro, pois, com essa ilação vaga - verdadeira, porém - e me ponho a dividir e vivenciar contigo o nosso amor.


É preciso entender de distâncias, de conversas enterrompidas, de luas brilhantes, de olhar, de pele, de toque... é a sintonia  fina  que a boêmia tão bem representa.
Só compreende quem já afogou as mágoas de amor em mesas solitárias de bares partidos em sensibilidade e em pedaços de papéis rabiscados de dor e molhados de lágrimas.
Sei que num desses recantos estás sussurrando o meu nome por entre as baforadas do cigarro e no olhar vagabundo como o de um poeta andarilho.
Guardas em algum lugar os sonhos de viver comigo uma felicidade que relegamos ao plano do meressível e, então, a lembrança das alegrias que não assumas, fica martelando a solidão que é nossa convidada de honra.
Fracassados? Nós? De forma alguma.
Preferimos viver amanhã o que o ontem semeou. A colheita é nossa!


Em 20.06.89


Do pouco que posso te dar – quase nada – resta o amor que te dou pleno. Mas, ainda que pleno, enorme, é praticamente nada do tudo que mereces. Aliás, merecemos.
Tu me dás o que jamais imaginei poder ter e te serei eternamente grato por isso.
Talvez, um dia, eu posso te fazer realmente no nosso afeto, frustrações à parte. Talvez... Espero que sim. Por enquanto, só posso te oferecer o meu sentimento, o que de mais puro e verdadeiro brotou de mim até hoje.


Hoje, me entregas o teu afeto, o melhor presente que eu posso receber.
Mentira! O melhor presente seria te ter completo ao meu lado para justificar a imensidão do amor que sinto.
Tenho que me contentar em te ter em doses alopáticas como se eu fosse convalescente de alguma moléstia contagiosa e terminal.
Se nos amores tanto, porque não assumimos, essa verdade, inteiros?


Em 22.06.89


Não sabia ser capaz de cometer toda a mágoa, que por ser capaz, cometi. Não suponha que te fizesse tão infeliz. Acreditava te fazer feliz. Não te sabia tão ignorante em relação a mim. Aliás, não sei se és tu a ignorante ou, se eu próprio ignoro o meu verdadeiro eu.
Mas, o certo é que ambos estamos embrenhados num equívoco sem fim.
O nosso amor, tido por nós como inatingível, não resiste a mínima briga. Cambaleia, freqüentemente, balançado pelas nossas contingências doentias, fruto de fatores exógenos adotados e mantidos por culpas nossas.
Nada me faz sofrer ou me fez sofrer tanto, do que te frustrar. E isso é o que tenho feito contigo ao longo de 20 anos (mesmo naqueles em que não privei contigo) porque te tenho como fruto de mim.
E eu que sonhava quimeras, sonhava te fazer a mulher mais feliz do mundo! Equívoco imperdoável, pos o ter sido fruto da ignorância sobre a minha capacidade de dar e proceder. Filho do amor próprio que me cegou, a ponto de não me permitir ver a mediocridade que encerro. Em socorro do meu despauterado equívoco, veio a tua lucidez, arrancando a venda dos olhos e os recolocando no caminho reto e plano da mediocridade.
E quem já não acreditava na felicidade e voltou a acreditar, se convence de que essa coisa, que muitos pensam que não existe, mas existe, não foi criada para que eu a vivêncie.
O que fica de mais triste nisso é voltar ao lugar que conheço e de que não gosto mas, que por escolha minha e da vida que me foi ofertada, me foi facultado viver.
Seria mais fácil se não tivesse sabido o que é ser feliz.
Que Deus te guarde. Ninguém merece mais do que tu, ser guardada por Deus.

O teu desalento
De batalhas vencidas
E de lutas perdidas
No carrossel dos teus sonhos
Te devolve, assustado,
Ao menino
Projetado no espelho
Da tua infância...
A pandorga é tua.
O vento que a levou
A trouxe de volta
Para as mãos
Do teu coração!






Em junho de 89


Na medida que eu alcanço o objetivo de te fazer e te sentir feliz, fico confortado com o meu bem querer e com a forma, muitas vezes, inadequada e desajeitada de conduzir as coisas conosco.
Saber que tua compreensão veio, afinal, me dá a convicção de que, doravante, tudo será mais fácil, como sempre deveria Ter sido. E o nosso afeto só não crescerá mais porque faltará espaço e sangue para irrigar nossos corações apaixonados.


 Apaixonados como dois adolescentes que (re) descobrem a alegria de viver e fazem loucuras e desatinos na simplicidade de se saberem plenos do néctar do amor como as flores do campo que se deixam beijar pelos pássaros na primavera!


Em 23.06.89

 A ternura que é imensa, não sofrerá jamais qualquer arranhão. As vissicitudes que a vida nos impõe serão relegadas ao plano do superável por força de um valor maior. Se ainda achas prudente confiar em min, confia.


Confiar em ti, confio sempre, apesar de te saber humano. Confio mais e acima de tudo, no amor que é inatingível pelas nossas limitações e fragilidades.


Por favor, desenha-me um carneiro?!?!


Em 28.06.89


Se o carneiro sair desajeitado, nem perdoa. Não sei desenhar; valerá, com certeza, a intenção.
Já te escrevi tantas vezes! Sempre que o fiz foi em momentos de angustia ou de saudade. Não se afigura justo deixar de escrever quando me sinto feliz. Estou, afinal, escrevendo...
Hoje, de resto um dia qualquer, não fossemos apegados a datas, sinto-me especialmente feliz, reconfortado na minha alegria. E não é uma alegria que brota do momento feliz; é a alegria que emerge da descoberta de que tenho o que sempre quis ter por  ser o melhor.
A emoção que, há um ano atrás, não sabia ser capaz de sentir, me invade com o descontrole dos apaixonados. Devo a ti saber-me vivo e protagonistas de pensamentos, palavras e gestos que já não imaginava possíveis. Devo a ti muito mais do que isso. Devo o reencontro comigo mesmo, com esse lado que estava necrosado em mim  e que volto a Ter vida, graças ao nosso reencontro.
Sabemos que poucos compartilham conosco a nossa felicidade. Mais; sabemos que o pouco que temos é o muito que muitos nunca tiveram e jamais terão.
Fico pensando que a idade da razão que alcançamos aos tropeços, fruto de frustração e perdas, conduz a certeza de que temos em afeto, um pelo outro, o máximo que um mortal pode ter.
E eu que te amei tão mal, mas, tão intensamente no nosso passado sinto-me agora, premiado pelo privilégio de te ter tão inteira. Merecemos isso.
Sei que não posso te dar muito, mas sei, também, que o pouco que te dou é o muito que sempre quis e não consegui dar a pessoa alguma.
Eu sou grato por compartilhar contigo um amor infindo que deságua numa felicidade ainda maior. Amo-te e me orgulho disso.
Esse, o carneirinho que, na minha mente faceira, desenhei. Sei que mereces mais, ocorre que o meu limite é esse.
Sei que compreenderás os limites dos meus rabiscos, já que o limite do meu amor por ti, nem eu mesmo conheço.


Um vento forte sopra as cinzas, espalhando pedaços de sonhos por todos os lados da vida.
E reacende as chamas de um sentimento guardado pelo tempo sob sete chaves. E as labaredas entrelaçam risos e lágrimas na realidade que surge, mostrando a força e a certeza do amor de sempre.
E como argila na fornalha, nossos corpos são temperados, moldados, misturados e, nossas almas, de mãos dadas, voam para mais além numa viagem sem volta para a serenidade de ser, na essência da existência: - o pedaço mais inteiro, o encontro mais completo.


Em 21.09.89


Por força das vissicitudes azaradas da vida, já fui agricultor. Como tal, me foi oportunizado conhecer inços, capim-arroz, junquinho, carqueja, vassourinha vermelha e outros tantos.
Não conhecia o inço que mina o amor que, por mais singelo que se pretenda, sofre, também, por efeito de invasores.
Nosso relacionamento (não me atrevo a confundir isso com afeto) está minado de desconfiança. Inçado, tende a morrer.
Não fui eu quem o plantou. Aliás, inço não se planta, aparece. Foste tu quem não o combateste. Queres mais do que posso te dar e, o que é pior, mais do que eu pensei te dar, posto imaginar estar te dando o meu “tudo”.
Quando falas de azar, penso na sorte de ter  te reencontrado.
Não posso, no entanto, te prometer coisas que para mim, são impossíveis.


Não te peço nada além do que já tenho: um pouco do teu tempo e da tua companhia.
Se for demais - e acho que é para ti - fico prejudicada na pretensão de aspirar ao que pensei ter direito - direito esse, adquirido pela evidência de existires e seres o convexo e eu, o côncavo na amplidão das almas com que nascemos, vivemos e havemos de entregar, um dia, para a morte.
De plantações, entendo pouco- quase nada.
Só sei de ternura humana - um bocado!
E eu? O que posso te dar?


Em 22.12.89


O teu Natal será a rigor e com certeza, melhor do que o meu. E fico alegre com isso porque te amo.
Perder-te não seria fácil para qualquer um. Para mim que, ao que parece, te perco pela Segunda vez, é insuportável. Suportável, entretanto, no limite do previsível.
Só que já ando cansado de perder. E o mais inconcebível é que tens, no fundo, alguma razão.
Se não me permito te ter, é justo que te permita sentir, não o meu pretenso desamor, mas, os dissabores que te acarreto. Assim, nos perdemos. De novo. Por culpa do desmedido tamanho desse amor. Maior do que nós mesmos, com certeza e, para nosso azar.
Quero te ver feliz como jamais alguém quis ou pretendeu querer te ver.


Dizer que queres e não podes, me fazer feliz!?
E eu, te faço feliz?
Pois eu só sou feliz quando estou em paz contigo. E para isso é preciso te encontrar como o homem que eu amo, sem culpas e que me ame, sem débitos.
E tudo isso é mais fácil do que escrever no papel essa verdade. Tudo é simples, nós é que somos complicados porque queremos exigir da situação que vivemos: - a perfeição inatingível.
Temos o necessário para ser feliz. – nos amamos!
Eu fui idiota por querer um tempo maior contigo, no Natal - se eu sei que para nós pode ser Natal em qualquer outro tempo.
Tu foste tolo por pensar que me movo por caprichos e pensares que não és feliz porque não me podes dar o que queres.
Não quero nada além do teu amor - e isso eu já tenho.
Não merecemos voltar para o vazio que eram nossas vidas antes de nos reencontrarmos.


Em 27.12.89


Sabia não ser missão fácil te manter ao meu lado. Minhas contingências, frustrações e fraquezas seriam um obstáculo. Superável, imaginava eu, apaixonado, pelo amor sem limites que sentia irradiar de ambos.
Mas, e isso eu já te disse antes, o amor não é o suficiente. Faz-se necessário o companheirismo que eu, embora me imaginando o melhor companheiro, não soube te dar.
Não me conformo, no entanto, com o desiderato triste e inimaginável da tua perda.
Se for o melhor para ti, que assim seja. Já não tenho argumento algum para te manter ao meu lado.
Sempre te amarei.. Claro que, com os mesmos defeitos.


Temos a nossa frente, um tabuleiro de xadrez com algumas peças fora de lugar.
Precisamos organizar esse tabuleiro onde está a nossa vida, o nosso afeto, a razão que temos para existir. Não adianta recolhermos as peças e montarmos um tabuleiro particular. Estamos na mesma partida, somos parte um do outro.
Temos que descobrir ou aprender qual o melhor meio de concatenar as tuas dificuldades com as minhas. Precisamos achar um meio termo para que não te sintas incapaz e para que eu não me sinta fora de lugar.
Não podemos colocar vendas nos olhos, pelo menos, nos olhos das emoções. Elas existem! Estão aí! São as melhores partes de nós!
Tu me amas e queres me fazer feliz - deixa-me, então, sentir o teu amor por mim, o mesmo de sempre que, agora, parece tão escondido, assustado, escorregadio.
Estás te comprazendo em me amar dentro do teu universo - virado como um caramujo que precisa engolir a saudade, a ausência, o desconforto. Já não te permites a entrega plena - estás sem espontaneidade.
Eu te preciso vulnerável ao toque do meu amor.
“Dividiremos o fardo” – é isso o que está faltando. Estamos num jogo de “empurra” de culpas e sobrecargas.
Quem sabe se podemos ajudar um ao outro a escalar a montanha, compartilhando o que resta, dividindo em porções iguais o alimento e o fôlego. Assim, a gente chega lá... Cada um no seu esforço próprio, dando a mão para o outro. Assumir juntos, sem dramas, o sentimento e a vivência dele. Em partes iguais.


Em 02.04.90


Há um tempo de ser feliz. Nesse tempo, o olhar fala com uma eloquência pura e singela. Há um outro tempo, no entanto; um tempo desigual e injusto de polemizar por angústias e ser, por decorrência infeliz.
É uma sanfona de alegria e frustração. É um encontro e um desencontro... Seriam contingências? Não. Não podemos nos permitir contingências outras que não as nossas. E essa contingência tem que ser superada. Nossa maturidade nos impõe essa conduta; mais nossa capacidade intelectiva terá que dar nisso um basta.
Estou te perdendo como o metalúrgico negligente que perde o dedo. A diferença é que não perderei o dedo, perderei a vontade de viver. Socorre-me! O que tenho que fazer para evitar tamanho mal? Para mim, é claro!


A pior das derrotas é a desistência da chance de ser feliz!
Eu te disse adeus, a primeira vez, há 15 anos atrás, por imaturidade e, volto a fazê-lo, por força das circunstâncias, na idade da razão.
Será que nos reencontraremos no “tempo da delicadeza?”


Nenhum comentário: