01 maio 2009

NUNCA É TARDE DEMAIS

Entrei na livraria sem ter, especial ou especificamente, algum livro em mente. Entrei como quem entra num lugar sagrado, pisando leve e com cuidado.
Meu olhar criou asas e voou por entre as imensas prateleiras, visualizando os volumes catalogados por estilos.
Na moderna livraria um grande número de pessoas fazia o mesmo que eu. Algumas estavam sentadas em confortáveis poltronas, folheando páginas com muito interesse e completo silêncio.
Achei o máximo poder acompanhar essa quietude saboreada na intimidade entre autor e leitor. Tudo muito à vontade, muito sossegado, muito familiar.
Caminhei a esmo, me incorporando ao clima ali existente.
Um título chamou minha atenção particularmente. De uma pilha de livros de formato pequeno, peguei um deles. “Nunca é tarde demais...” de Patrick Lindsay. Fui capturada. Fiquei cativa. Li duas páginas e acabei comprando o livro.
Nele, nada há que eu já não saiba ou tenha deixado de aprender. Talvez, por essa razão eu tenha adquirido um exemplar. Para lembrar a mim mesma de algumas verdades que, displicentemente, fui relegando, arquivando, abandonando.
Li, num só fôlego, as cento e setenta e duas páginas do livro. E, a que mais me tocou foi; “Nunca é tarde demais... para parar de preocupar-se. Separe a preocupação do problema. Descubra o que você pode fazer e, então, faça. Se você não tem poder para fazer coisa alguma a respeito, se preocupar com isso não vai ajudar. Permita que as situações tomem seu curso. Opções irão surgir. Quando você para de se preocupar, consegue pensar claramente. Abra sua mente para possibilidades. Você ficará surpreso com a rapidez com que os problemas se dissipam.”
A ansiedade de querer ver a vida se resolvendo de acordo com o que penso ser o melhor. Esse é o ponto de origem que gerou a minha identificação com as palavras escritas naquela página. A mania, o hábito, o costume de raciocinar demais, de racionalizar em excesso, de usar a experiência como sabedoria, faz de mim uma eterna preocupada.
E eu sei que nada sei. Que os problemas independem da minha atuação. Que a realidade é soberana. Que ocupar-me por antecipação (preocupar-me) é inócuo porque não posso impedir o curso do que acontece e foge da minha alçada.
Daqui de onde escrevo, frente à janela, vejo o vento balançando os galhos das árvores fortemente, no jardim entristecendo de outono. E faço uma comparação oportuna entre o assunto dessa crônica e a mudança das estações climáticas. Nada impede o ciclo natural. A chuva cai, o vento sopra, o sol aquece, o frio congela. Assim é com a vida do cotidiano. De pouco resolve querer ter controle sobre o curso do intocável.
Minha tristeza continua triste, minha saudade segue saudosa, meu medo permanece medroso, minha coragem persiste corajosa.
Nada detém o ciclo do tempo e do que está traçado. As preocupações são desnecessárias e nos fazem perder o prazer de apreciar a amena paisagem por medo das tempestades.
Porém, “nunca é tarde demais... para parar de preocupar-se”.

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