01 maio 2009

POESIA E PROSA


Poesia é artigo de todo dia e de cada instante. Está na rua, na janela do ônibus, no olhar parado, no silêncio do gesto. E a prosa é o jeito que se tem de colocar poesia no cotidiano, sem maiores pieguices. Apesar de poesia não ser sinônimo de sentimentalismo, pode surgir quem pense que tem algo a ver com fragilidade. Poesia é instrumento de fortes e bravos.
Poesia é ponto de vista que se expressa em palavras, é um modo de observar, de traduzir impressões, de unir o belo ao bom, de denunciar o oculto, de revelar o outro lado.
Aliás, recebi um poema do Affonso Romano de Sant`Anna que diz: “Debaixo de minha mesa /tem sempre um cão faminto/ -que me alimenta a tristeza./ Debaixo de minha cama/ tem sempre um fantasma vivo/ -que perturba quem me ama./ Debaixo de minha pele/ alguém me olha esquisito/ -pensando que eu sou ele./ Debaixo de minha escrita/ há sangue em lugar de tinta/ -e alguém calado que grita.”
Daí, quando leio um poema como esse, sinto uma vontade doida e doída de ter escrito algo parecido ou quase igual porque é dessa forma que percebo a vida, é desse modo que o cotidiano se escreve em mim.
O dia 14 de março, ou seja , o sábado passado, celebrou e comemorou a Poesia com data especial a ela dedicada.
Perdoem-me, mas Poesia é atemporal. Foge de qualquer limite de espaço ou restrição. Vai além de, ultrapassa e voa liberta.
A Poesia acontece na minha vida desde que aprendi a usar os sentidos. Quantos? Não sei. Cinco, seis, sete sentidos e um mundo vasto e extenso começou a me envolver.
E, mesmo quando enveredo pelos caminhos da Prosa, a Poesia fica nas entrelinhas, espreitando cada movimento, que as palavras ensaiam antes de entrarem em cena. Talvez eu componha meus textos num ritmo próprio, coreografado pelas regras harmoniosas da Poesia.
Nada é por acaso e tudo tem uma justificativa.
Talvez, os rabiscos se desenrolem no cérebro em pensamentos que desejam criar asas como borboletas que saem do casulo e, depois, voam por sobre o papel desenhando letras, formando palavras, completando frases. E, de repente, o que lês é o que sentes como se tu mesmo tivesse escrito, como se te olhasses por trás de um vidro transparente e visses a tua imagem e o teu retrato, impressos numa folha de jornal, numa intimidade revelada aos quatro cantos.
Os teus secretos sentimentos se escancaram naquilo que um outro escreve, seja em prosa ou em poesia, como se alguém te espiasse no silêncio da tua individualidade e te adivinhasse porque: “Debaixo de minha pele/ alguém me olha esquisito/ -pensando que eu sou ele./ Debaixo de minha escrita/ há sangue em lugar de tinta/ -e alguém calado que grita.”

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