22 novembro 2009

ALMA LIVRE (conversa de fim de tarde)



Se o teu olhar se prende em alguma linha perdida no horizonte, a alma voa como borboleta solta nas próprias asas, buscando o ilimitado do espaço. E a solidão fica ridícula, relegada a um canto da casa como ornamento desnecessário e inoportuno.
A alma tem dessas manias e ai de quem não acompanhar o ritmo do seu vôo.
De nada servem silêncios de armazéns habitados por gatos e ratos. É preciso a algazarra de um bazar de mercado persa cheio de bugigangas que fascinam, que encantam, que iludem. Por essas e por outras, a alma sente necessidade de escapar por entre labirintos, vales, mares e ares.
A tua imaginação permite que a alma dê umas escapadas por esse universo fascinante. Tudo é mistério a ser desvendado. Vastas dimensões em que a fantasia dita as regras.
E, ademais, de que são feitas as realidades senão de ilusões, de fascínio, de encantamento?
Nada é verdadeiro além dos teus limites avarandados onde se amontoam teus cuidados inúteis.
Mesmo que não desejes a dor, ela se aproxima e se aninha no calor das tuas alegrias e agoniza junto ao abandono em que vives, pois não te enganes: a tua absurda solidão é o espelho da tua fracassada tentativa de ser além do permitido pela casca que te envolve. E o que és, afora um arcabouço de ilusões, de um sonho, de um “bric” de trastes que não sabes bem onde colocar ou o que fazer com eles?
És o teu próprio algoz se colocas tuas vontades nas mãos do imutável. Deixa a vida te levar. Permite a surpresa, o susto, a risada solta, a liberdade de realizar sem limites as quimeras que, louco, sonhaste na idade do ontem.
Solta a alma para que viaje por onde bem queira e quando regressar, abre os braços para recebê-la. Talvez, ela traga alguma boa nova.
E como sempre, tudo passa: “não há mal que sempre dure e nem bem que nunca se acabe”; trata de acordar e encarar o cotidiano que tem horário a ser cumprido e obrigações a serem feitas.
Logo mais, ao entardecer, é bem provável que tua alma tenha ímpetos de fazer um “tour” panorâmico sem bagagem, sem passaporte e com muita vontade de ficar distante desse burburinho que te rodeia. Aproveita a carona e vai junto com ela. A tua alma está alinhavada no teu corpo e não pesa. Ela é leve e etérea e, surpreendentemente, tem força suficiente para te carregar nos braços.
Tenho certeza que o passeio será prazeroso e inesquecível.
Faz muita falta reabastecer as energias. E o que de melhor pode se fazer do que usar e abusar da recarga de uma alma livre?

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