18 dezembro 2009

COLHEITA



Permiti que o celeiro ficasse vazio. Estranha a sensação de perceber que deixei se esvaziar o acervo das colheitas na expectativa de que, assim, eu colheria novos grãos. Com seria possível, se me descuidei do plantio? De que maneira, se deixei que ervas daninhas se espalhassem de forma desordenada? Abandonei velhos sentimentos para me esquecer deles, na ilusão de que todos sairiam pé por pé, silenciosamente, deixando o espaço vago para a aparição de novas ocupações. Que tolice!
A taça de vinho não precisa ficar vazia para poder ser completada. 
 
Se o espaço existe, por mínimo que seja, pode ser preenchido. Aliás, afetividade não é peça de jogo de montar: tira uma, põe outra.
Com um pouco de percepção se deduz que fazer limpeza, com escova e sabão na casa das provisões, tendo por finalidade a de expulsar qualquer vestígio de colheita anterior, é serviço “posto fora”. Sempre restam rastros do que ali existiu. Lembranças são indeléveis.
Depois de muito pensar, resolvi que é tempo de encarar o momento e arregaço as mangas, escolho as ferramentas para arar o campo do coração. Preparar a terra, revolvendo todos os cantos, arrancando ervas nocivas, más recordações. Urgente se faz plantar para poder colher.
Que esse vento quente traga boas sementes em abundância e as espalhe por entre os sulcos que o tempo esculpiu na minha alma, ainda e muito, fértil.
A brotação surgirá no melhor tempo, na hora exata. E que venha a colheita!
Colheita de ação de graças, de começo de jornada, de planos realizados, de vontades concretizadas. Quero reunir fardos e fardos de ternura, de abraços, de risos, de cantorias, de danças. Acima de tudo, desejo ser enlaçada pela dança da vida, girando desde a platéia até o palco.
Vou protagonizar o enredo que será escrito para mim e por mim. Se eu acreditar de verdade, será um sucesso de bilheteria. Toma lá, dá cá.
A colheita promete. Só necessito do vento, da chuva e do tempo. Coisa pouca. Com oscilações climáticas ou sem elas, a semeadura se transmudará em grãos para alimentar meu espírito.
E o celeiro ficará repleto, sem lacunas. Dele extrairei o sustento dos meus dias nas jornadas em que a vida me inserir.
Na realidade não sei se a vida precisa de mim ou se eu preciso dela. Afinal, somos companheiras de tantas aventuras, de perdas e ganhos, de semeaduras e colheitas. E não consigo, consequentemente, me imaginar sem ela. E se essa parceira se fez poesia em mim, me resta pedir: “Oh! Poesia me ajude. Vou colher avencas, lírios, rosas, dálias pelos campos verdes que você batiza de jardins do céu”, como diz a canção de Paulo César Pinheiro.
Na terra arada dos campos da alma, basta cair a semente da bonança para que frutifique a bem aventurança. A colheitadeira arrecada e armazena a recompensa.
Celeiro vazio? Nem pensar!

Um comentário:

Anônimo disse...

Boa noite...
Menina q postagem linda!!!
Parabéns pela desenvoltura em usar as palavras num contexto estraordinário.
Ameiiiiiiiiiiii.

“Desejo a você: Um feliz ANO NOVO… 365 dias de felicidade;
52 semanas de saúde e prosperidade;
12 meses de amor e carinho;
8760 horas de paz e harmonia;
Que neste novo ano você tenha 2010 motivos para sorrir…”

Um beijo grande.