14 novembro 2010

REFERENCIAL

Ultimamente tenho reencontrado amigos que o tempo levou. Gente que fez parte da minha história em algum determinado período, desempenhou um papel, marcou presença e depois foi se ausentando, desaparecendo, perdendo contato. Com os recursos modernos consigo esbarrar, via espaço sideral, com pessoas que, apesar da ausência, nunca foram esquecidas.


E o resgate das lembranças ganha um visual novo e diverso. O senhor Tempo passou por nós como vendaval, sem dúvida. Deixou-nos com marcas e cicatrizes, mas estamos mais bonitos, afirmo com certeza. Sobrevivemos. Emergimos. Aprendemos a nadar em mares revoltos e em calmos lagos. Perdemos alguns pedaços pela estrada, mas adquirimos recompensas inafiançáveis, em compensação. Pois a vida de cada um é assim mesmo. Uma prateleira onde se equilibram e se juntam vários livros. Uns excelentes, outros nem tanto.


Na minha trajetória retilínea ou curvilínea, dependendo do referencial considerado, fui compondo poesia e prosa, muitas delas a quatro mãos. Registros singelos de momentos vividos.

Quando, porém, um reencontro acontece fico sem jeito ao tentar resumir em poucas frases, a autobiografia com datas e fatos exatos, para responder a curiosidade de quem reaparece, de repente.

Paralelamente, penso no quanto é bom também, encontrar alguém pela primeira vez. Sem lembranças de memórias guardadas em baús. Assim, do nada, ao acaso. (Será de verdade casual? Sei lá!)

E os que só encontrarei num futuro desconhecido e surpreendente, me deixam alvoroçada pela promessa de um vir a ser que é sempre desafiante e enfeitiçado. Como escreveu o Chico Buarque:”E pela porta de trás/ da casa vazia/ eu ingressaria/ e te veria/ confusa por me ver/ chegando assim/ mil dias antes de te conhecer.”

Graças sejam dadas, caríssimo (a) leitor (a), para aquela (e) que virá ao teu encontro mil dias antes de te conhecer para colher do teu afeto, o melhor conforto, do teu abraço o maior consolo, da tua boca a palavra certa, da tua companhia a recompensa mútua.

Pela certeza de que foi, é e será válido encontrar pessoas por essa vida afora, concluo que gostar de alguém é ato que de fato leva muito tempo para acontecer.

Mas isso é assunto para a próxima crônica.

Por ora, fico na expectativa do movimento referencial que me fará encontrar com alguém mil dias antes de eu sequer supor.

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