18 dezembro 2010

OLHAR

Pouco importa a cor dos olhos de quem nos olha pela primeira vez. O modo de olhar é que faz a diferença. Claro que se o olhar vier embalado em cores várias e bonitas, estremece ou cristaliza o que, em nós, vive em estado de semeadura a espreita de ser descoberto. Porque é muito bom ser alvo de um olhar assim, desses que nos viram do avesso, invadem nossos labirintos, descobrem os tesouros guardados em cofres de pensamentos.


A gente pode esquecer nomes, lugares, amores. É muito natural, até, que isso ocorra. Porém, nunca se consegue esquecer de certos olhares. Olhares que se esgueiraram por nosso próprio olhar como se nos soubessem, nos adivinhassem em mínimos detalhes e, por razões que escapam a nossa alçada, ficaram gravados na memória para sempre. Olhares que nos arrancaram a pele da alma e se estabeleceram como conquistadores, fazendo-nos reféns vulneráveis e desprotegidos.

Possuo alguns olhares guardados como relíquias. Olhares que me viram menina, jovem, mulher. Olhares de amor e de encanto. Outros, nem tanto.

Conservo, também, uma pequena coleção de olhares indesejáveis e inconvenientes. Olhares de reprovação, de inveja, de espanto, de medo.

Olhares tardios são os que mais me perturbam. Olhares de despedida, de nunca mais (como se existisse um “nunca mais”). Como disse Quintana: “As únicas coisas eternas são as nuvens”. Mais efêmeras impossível. Portanto, prefiro pensar que olhares podem se repetir, podem voltar a ser e acontecer.

E há os olhares fatídicos. Aquele olhar que lança dardos envenenados e acaba por matar o afeto e trucidar a ternura, lenta ou repentinamente. Olhar despido de cuidados e de carinho. Olhar frio e afiado como um punhal. Olhar que enterra os sonhos e precipita o fim. Fim de um caso de amor, quero dizer. E desses, ninguém escapa.

Fazendo um exercício de recapitulação, fico frente a frente com olhares que não se despegam de mim, apesar do inexorável tempo tê-los catalogado como passado remoto. E chego a sorrir por revê-los tão bem dispostos expostos numa galeria por onde só eu posso passar. Esses olhares foi o que me ficou de herança do que semeei em outras almas.

O mais interessante sobre esse assunto é que os olhares que me dirigiram fazem parte do meu acervo de vida. Poderosos instantes, frações de minuto, em que a alma de alguém se debruçou sobre a minha e se desfez em luz.

Talvez, por tal razão, às vezes, a noite quando apago a luz e fecho os olhos para dormir, revejo estrelas brilhando na escuridão do quarto para me fazer lembrar que a chama dos olhares que as geraram, ainda, não se apagou.

Todo o cuidado é pouco com o olhar. Olhar de querer bem, então, nem se fala. É o mais perigoso porque sua chama queima e ilumina as noites silenciosas como se embalasse e fortificasse o que de melhor existe em nós no tempo de sempre.





Um comentário:

Dulce Miller disse...

Em primeiro lugar, desculpe minhas ausências aqui no teu cantinho...

Seja no Natal ou em qualquer outra data, devemos sempre sentir a presença de Deus em nossos corações. Neste ano que passou, apesar de tudo que sofri, sempre senti que Ele me carregava no colo quando eu achava que não podia mais seguir meu caminho. 2010 foi o ano mais difícil de toda minha vida, mas ao mesmo tempo, foi o ano em que tive provas de que verdadeiras amizades ainda existem e que Deus nunca nos desampara. Talvez por isto eu tenha conseguido meu emprego tão sonhado, depois de tantas batalhas, internas e externas...

"Girando o mundo nos guia à poesia dos dias, seja com o sol, seja com a lua, ela é tua... a felicidade está em ti."

(postei esta frase no twitter quando senti que o sorriso é como uma cura... e foi. mudei minha atitude diante dos fatos e meu pensamento atraiu energias positivas)

Beijos n'alma amiga, e que sejam felizes todos os teus dias, inclusive o de hoje!