23 janeiro 2011

A CULPADA


Sem apelação, a grande vilã na história de alguns é a insegurança. A falta de confiança em si mesmo, que acaba gerando uma desconfortante postura de vítima. Como se um algoz implacável se postasse frente a uma pequena falha, uma vacilação.

No cotidiano se esbarra constantemente em situações de absoluta imperícia ao lidar com a seqüência e a conseqüência de atos e fatos. Perdidos em labirintos, sem a confiança de encontrar uma saída (agradável ou não) muitos reagem com agressividade para encobrir a ausência de autoconfiança.

O processo é lento, longo até por demais, eu diria. Assimilada com o passar do tempo, aprendida através de experiências múltiplas, a autoconfiança assegura um espaço único no contexto de viver.

A firmeza nas posturas, a certeza da coerência, a autenticidade das palavras e gestos são alguns dos sinais da segurança que temos intrinsecamente e que, também, nos foi injetada em doses certas quando nos propusemos a reconhecer nossos próprios valores e méritos.



Somos o dia e a noite, temos lados iluminados e outros sombrios e é nessa gama mesclada, aceita e coordenada por nós que se enraíza a certeza do que somos e das qualidades e defeitos que possuímos.

E, principalmente, a suavidade, a simplicidade que não se abala com agressões ou tensões. No caso, equilíbrio é sinônimo de autoconfiança. É saber que existe o sim e que existe o não e, entre um e outro, um abismo ameaçador. Preciso é poder cruzá-lo com perspicácia suficiente para manter o prumo da balança no ponto certo.

Aliás, as pessoas equilibradas são fascinantes e marcantes.

No entanto, alguns confundem autoconfiança com prepotência ou arrogância. Talvez, seja esse o preço cobrado aos autoconfiantes nos pedágios da estrada da vida. Mas, pode parecer aos inseguros que os autoconfiantes se têm em alta conta. Nada disso. Os autoconfiantes usam com habilidade o discernimento para agir adequadamente consigo mesmo e com os que os cercam, evitando confrontos desnecessários. Pagam o pedágio sem culpas ou reclamações inúteis.

Autoconfiança é domínio sobre os limites, é soberania de território, é propriedade irrestrita de si mesmo. É arcar com ônus e bônus da mesma maneira, sem temer perdas e ganhos.

Ao contrário, o inseguro tem tanto medo de ser lesado que acaba expondo sua fragilidade com a presunção de quem ostenta um prêmio imerecido que lhe pode ser usurpado a qualquer momento.

Os inseguros brigam com gigantes que só existem em sua imaginação, como o personagem de Cervantes, Don Quixote de La Mancha, lutando contra moinhos de vento.

Utilizam uma espécie de elevador que os conduz do subsolo ao andar mais alto numa oscilação de humor frequente.

Os inseguros sentem-se ameaçados por pouco e por nada. Ficam numa posição defensiva que, muitas vezes, se torna ofensiva. Qualquer ameaça imaginária ou real a sua estrutura frágil e arisca provoca deslizamentos, desmoronamentos, palavras inadequadas, gestos inconvenientes.

Ao invés de aproveitar as lições da vida, de avaliar os resultados das experiências, permanecem na retaguarda assustados e trêmulos na espreita do próximo sobressalto. Invejam dissimuladamente a autoconfiança de alguns, que é, na realidade, o desafio de todos.

Administrar a segurança de ter confiança nas próprias potencialidades é uma atitude de cada dia que amanhece. Depende de cada um a escolha entre a sombra e a luz.

E que a culpada cumpra a sua sina sem onerar o inocente.














Um comentário:

Dulce Miller disse...

Perfeito texto, poet'amiga!

Beijos