18 janeiro 2011

MUDANDO O RUMO


Foi proposital, embora lhe custasse muito acreditar nisso. Mesmo que, no primeiro momento, tenha ficado surpreso e chocado com a atitude decidida, ainda acreditava que o tempo não tivesse se perdido, que o sentimento fosse inteiro, que a parceria valesse para todos os momentos.
Descobriu, da pior maneira, que suas escolhas tinham que, primeiro, passar pelo crivo das determinações pré-estabelecidas de outrem. Caso contrário, sofreria punições, ouviria sermões, perderia a espontaneidade.
Quando tentou entender a postura de tirania de que era alvo, isso já não fazia sentido no contexto. O amor tinha se partido em mil pedaços esparramados na frieza do nunca mais.
A ruptura era parte de um plano bem arquitetado, bem calculado, sem direito a opiniões contrárias.


Desolado, chorou. Chorou o suficiente para dar vazão as comportas que, durante algum tempo, represaram águas e lágrimas.
Depois buscou justificativas. Encarou fantasmas de culpas (de um modo ou de outro, sempre a culpa nos assola como algoz inflexível). Assumiu falhas, omissões, silêncios.
Fatos e fotos foram passando pelo escoadouro da alma, lentamente. E um a um foram desaparecendo como fumaça que se dilui no ar.
Consolo algum surgia para amenizar a pena. Perguntas ecoavam sem respostas e os dias e noites se sucediam, estrangulando emoções vadias e solitárias.
Porém, como tudo passa ou nada é para sempre, a lucidez veio em seu socorro, iluminando o caminho, mostrando novos rumos, diversas oportunidades.
Para velejar o navegador traça uma rota e se utiliza de mapas, mas corre o risco de mudar o rumo devido a tempestades inesperadas.
E foi assim, usando a modernidade tecnológica de um GPS (sistema de posicionamento global) que novos horizontes se abriram a sua frente.
Agora, a ocorrência desagregadora era só uma referência mínima no mapa. Um pontinho obscuro e esquecido.
Acordou aliviado após o temporal. O sol vazava sua luz entre nuvens brancas e pálidas. Uma morna manhã acariciava os planos traçados sobre a mesa e um sorriso acompanhou a paisagem na tranqüilidade que é peculiar aos que superam perdas.
No campo dos sentimentos inexistem vencedores ou vencidos. Todos perdem. Perde aquele que investiu o melhor de si, o que plantou sementes no deserto, aquele que impôs regras e o que as desobedeceu, quem se acomodou e silenciou, quem falou em excesso e contrariou, quem jogou com cartas marcadas e armou ciladas.
Até aqui, em alguma linha desse texto, deve o leitor ter se identificado com meus personagens fictícios porque num instante único, mas não exclusivo, somos parte do elenco no enredo da vida com suas emoções intensas, somos todos iguais na essência e passamos por experiências idênticas ou parecidas.
A cada dia um aprendizado. A vida é uma escola onde adquirimos conhecimentos sobre a maravilhosa capacidade de renascer das cinzas, de começar de novo, de mudar o rumo, de vir "à tona de todos os naufrágios", como bem escreveu meu caro Mario Quintana.









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