Percebo “à queima-roupa” quando alguém tem medo de se emocionar porque sente que ficará despido em praça pública., vulnerável e indefeso, mostrando sua pseudo fragilidade.
É mais comum do que eu gostaria, mas é a mais usual forma de comportamento. E não se trata de insensibilidade ou pudor. É medo mesmo. E pela incapacidade de lidar com a emoção, que quer sair pelos poros, encarceram-se lágrimas e sorrisos. Perdem-se frases e atitudes numa solidão explícita no emaranhado jogo de deixar a vida passar. Sabe-se lá como e até quando.
Quando escrevo, confesso que me dispo de qualquer invólucro. Fico em carne e osso com a epiderme sujeita a toda interferência de imagens plasmadas, de sensações alheias miscegenadas as minhas. Vou permitindo que meuis pensamentos se exponham como quem tira a roupa e mergulha num banho morno de espumas.
Então, e só então, surgem as verdadeiras emoções, vêm à tona os registros do que fica marcado em mim. Ato contínuo, no papel se delineia a impressão e o retrato de alguns sentimentos comuns e outros tanto raros.
Se converso contigo e me entendes, não é a mim que entendes, mas aos teus íntimos sentimentos e vivências. Pura e simplesmente. E a razão é que invado a tua privacidade, onde ninguém te olha, te analisa, te prescruta.
Ao abrires a página do jornal, me vês despida. E silenciosamente, deixas teus olhos escorrerem por entre minhas palavras buscando uma identidade, um denominador comum, uma constatação de que o que sentes pode ser transcrito, vivido por outro alguém de igual maneira.
Conheço gente que escreve cartas e nunca as envia. Porque documentar sentimentos é muito arriscado. A palavra escrita é forte, é guerreira, é valente desde que saia da gaveta e se projete no papel. Mas falta coragem. Falta a intransferível liberdade de expor o verso, reverso e anverso das emoções que, uma vez sentidas, são para sempre. E esse “para sempre” apavora. Difícil admitir que o tempo não tem controle sobre o que já foi sentido.
“Às vezes você pensa que já viveu antes/ Tudo o que você vive hoje/ Coisas que você fez voltam para você/ Como se elas soubessem o caminho./ Ah, os truques que sua mente pode usar!” (tradução de um trecho de Where or When, canção de Rodgers and Hart)
Deixar a emoção fluir é “malhar” a alma, é exercitar músculos, nervos, ossos e sentimentos. Dar vazão ao manancial de águas turvas e que se despejem até ficarem cristalinas.
O que achas de começar o treinamento e deixar de lado o pudor e mandar ao destino certo aquele bilhete que ficou mofando dentro do peito?
E se as palavras tivessem sido ditas... E se tivesses me escutado... E se o orgulho tivesse sido domado... E se o olhar claro não tivesse se esgueirado fugidio... E se o ciúme tivesse se exaurido nas lágrimas... E se a chance tivesse se proporcionado...E se a dança tivesse retornado...E se eu tivesse te abraçado...E se eu tivesse tido coragem... Mas eu tive medo do que pudesses dizer... E as algemas do medo me aprisionaram...Por medo perdi a oportunidade de vivenciar o sentimento bonito de amar e ser amada.
Cada um com seus devaneios e eu a escrevê-los pródigamente como se meus também fossem. Peças de vestuário que vou recolocando ao término de mais um desnudar.
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Um comentário:
E vc Malice a garota mais linda que conheci entre as blogueiras... Deus te conserve sempre linda assim.... Bjs do ZC
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