05 março 2011

TEMPO CERTO

Pode até parecer que as coisas estão fora de lugar, que os acontecimentos se posicionam em desordem, mas tudo faz parte de um sincronismo perfeito, mas invisível aos sentidos.

Há um tempo de plantar e um tempo de colher, um tempo de sorrir e um tempo de chorar, um tempo de chegar e um outro de partir. Na medida certa e na hora exata, apesar do nosso desconsolo em aceitar a realidade indesejável e dessa impaciência fantasmagórica que nos acompanha enquanto aguardamos o próximo momento. Na verdade, o que assusta é o imprevisível, o inesperado.

O intervalo entre uma coisa e outra é que dificulta a adaptação do nosso relógio interior a esse imenso espaço de espera.


Arquitetamos planos, engendramos táticas, estabelecemos metas. Sempre com alusão a um poder que não nos pertence e nos escapa pelos dedos. A areia do tempo é incontrolável e escorre independente de nossas vontades. Cada instante tem o seu peculiar sentido. Basta revermos a vida como se fosse um filme em reprise para percebermos que tudo nos ocorreu no tempo certo, embora a primeira vista tivéssemos tido a nítida impressão de que era fora de hora.

O tempo certo, na verdade, é o tempo presente. Sem passado, nem futuro. É o abrir de olhos para a manhã que rompe alma adentro. É usufruir o ar que se respira e arejar os pensamentos. É juntar as mãos para partir o pão e sorver o alimento. É aproveitar a vida no atual, no mágico instante em que escrevo uma palavra e outra a segue e assim vou compondo uma elegia à benção de estar inserida e costurada na existência, porque o minuto que passa se encadeia no seguinte e me permite mais um dia. E o faz com cada um, com todos aqueles que valoram o tempo certo.

Lembro de quando era menina e ficava acalentando sonhos, imaginando a vida como uma distante galáxia onde meus planos se acomodavam numa espera de vir a ser. Tudo era tão vago e distante. Mal sabia eu que a vida estava acontecendo ali na minha frente, no presente. E aquilo que eu idealizava ao longe estava bem mais longe do que eu supunha.

Pois o tempo certo é o tempo presente. Sem uso de bola de cristal para voltar ao passado ou perscrutar o futuro.

Talvez, a maturidade clareie a visão e melhore o foco. A sabedoria dos que viveram muito mostra isso.

De qualquer modo, penso que nenhuma situação acontece em tempo errôneo. O saudosismo e a persistência em lembrar do ontem, a angústia e a ansiedade de invadir o amanhã nos privam da realidade essencial do hoje.

Todas as chegadas e partidas, semeaduras e colheitas, risos e lágrimas, vitórias e fracassos têm seu próprio tempo, sua irrestrita chance de ser oportunos, no tempo exclusivo e certo do aqui e agora. Pois, sem dúvida, o tempo certo é sempre o uso adequado do tempo presente sem desperdícios ou imprudências.



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