03 abril 2011

MEIO TERMO

A madrugada é o meio termo entre o dia e a noite. Intervalo necessário para que se equilibrem a luz e a sombra. Maneira generosa com que a rotação das horas permite a alguns que reponham suas energias. Há os que fazem o inverso, mas não prescindem de um lapso de descanso entre o amanhecer e o anoitecer. Questão de escolha pura e simples.

Porém, “nem tanto ao mar, nem tanto a terra” como diz o ditado. Tudo na medida certa, no ponto exato. A gente acorda e adormece “entre a cruz e a espada” porque viver não é tarefa fácil e exige uma proporcionalidade de atitudes que só se aprende no passo a passo do cotidiano. A cada minuto surgem situações que exigem de cada um a tomada de postura entre o sim e o não, entre o ficar e o partir, entre o calar e o falar.


Para socorro dos mortais, existe o meio termo. Aquela sinuosa e invisível linha que separa a lucidez da loucura, a sensatez do descontrole, a ponderação da impetuosidade e por aí adiante.

Meio termo é sinônimo de equilíbrio. Equilíbrio é sabedoria. É manipular a existência com mãos de artífice. É esculpir vivências com exímia capacidade de dosagem perfeita entre o quente e o frio.

Fórmulas não existem para que se siga à risca e que se adquira o tão desejado equilíbrio. Talvez, a sabedoria do tempo traga consigo uma especial maneira de lidar com a vida.

Percebo nas atitudes dos mais velhos um jeito sereno e calmo de adaptação ao inevitável e imutável. Amoldam-se ao que der e vier não como rendição estagnada, mas com uma dignidade de quem reconhece que é mais fácil ceder do que resistir ao que o momento apresenta seja ele de intensa alegria ou de muita dor. O meio termo é alcançado e vivido.

A juventude não se deixa levar assim tão fácil. Franze a face e quer muitas explicações frente às situações conflitantes. Rebela-se ao encarar o dia a dia desgastante dos que começam a enfrentar os dois lados da moeda, sem salvo conduto. Difícil estabelecer o meio termo. Vão de um extremo a outro sem uma parada estratégica.

Exemplo de equilíbrio é a célebre assertiva:- ”Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras”.

Melhor definição de equilíbrio é quase impossível: a sabedoria de separar o joio do trigo. Valer-se do bom senso e encontrar o equilíbrio emocional. O sangue frio e o domínio de si.

A aceitação do que não pode ser mudado não deve ser confundida com a indiferença. A indiferença deixa de distinguir entre as coisas que podem e as que não podem ser mudadas. A indiferença paralisa a iniciativa. A aceitação libera a iniciativa, aliviando-a das cargas impossíveis. A aceitação é um ato do livre arbítrio, mas, para ser eficaz requer a coragem moral de se persistir apesar do problema imutável. Uma vez aceito o que não pode ser modificado, a gente fica livre para empenhar-se em novas atividades.

E aqui, insiro a maleabilidade que nos possibilita sermos moldáveis e adequados ao ato de viver com sabedoria, coragem e serenidade, buscando o meio termo, o equilíbrio.

Queiramos ou não, precisamos encarar a realidade com coragem demasiada e aceitar a vida tal qual ela é, com toda a sua crueldade e inconsistência, bonança e coerência.

Talvez, em ultima análise, o meio termo esteja na simples admissão de que as coisas nem sempre são como queríamos que fossem e, apesar disso, equilibramos um sorriso nos cantos dos lábios e certo brilho no olhar para seguir na corda bamba contrapondo o certo ao duvidoso numa proporção paralela.

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