10 abril 2011

ACASO

Pergunto, a mim mesma, se existe o acaso. Se, afinal, tudo não passa de um “por acaso” combinado.

Afora qualquer conotação transcendental, reconheço que linhas traçadas por mãos invisíveis, deixam escapar seus planos vez por outra. Colocam-se a nossa frente com a clareza indiscutível de um roteiro previamente escrito para que o interpretemos no cenário da vida.

Nada é colocado em nosso caminho se uma razão implícita (e, às vezes, explícita). Se desejarmos paciência, as dificuldades nos porão à prova; se quisermos sabedoria, o aprendizado exigirá esforços exaustivos; se aspirarmos a paz, nos defrontaremos com desavenças e mal-entendidos. Tarefa árdua a de buscar entender os desígnios que se desenrolam no cotidiano.

Mas há momentos que prescindem de palavras e antecipam o paraíso. Nesses instantes, sentimos que alguém lá em cima, se importa conosco e que se nos permitiu a escuridão foi para podermos aquilatar o valor da luz.

De repente, nos deparamos com todas as justificativas, todas as respostas para nossas indagações silenciosas. Tudo se encaixa como num quebra-cabeça de peças antes soltas e desconexas que num relance se colocam nos seus devidos lugares.

Um encontro casual ilumina a tarde e antecipa o vir a ser. Estava destinado a acontecer.

Numa dança embalada por música de anjos, nossos sonhos se entrelaçam e começam a ter consistência. Coreografia premeditada pelo destino.

Somos diamantes burilados por um ourives que nos aprimora quando lapida as restas. De cada um depende a qualidade do brilho a ser alcançado. E nos é dada a chance de adquirir tantos quilates quanto o desejado porque o destino semeia, na hora certa, a possibilidade de molde e adaptação.

Se lançarmos um olhar ao passado, veremos as ocasiões em que se fizeram presentes as intercessões nas ofertas postas a nosso alcance.

O futuro a traçar tem muito do que aconteceu porque, o que supomos escolhas feitas ou por fazer, são meros elos de uma corrente que não podemos romper. Estamos à mercê do que foi estabelecido.

Entretanto, nos é possibilitado tornar mais suave a caminhada se a maleabilidade é nossa postura nas vezes em que o destino apunhala nossas ânsias e desejos.

O livre-arbítrio é inócuo pretexto para tentar enganar o destino no transitório da existência pois, não nos permite transferir nossas dores para o vizinho, nem podemos usufruir da ventura do próximo em seu lugar. A cada um o que lhe está reservado.

O enigma está do outro lado. É só uma questão de tempo para se descobrir de que valeu a jornada e qual a razão de tudo que vivenciamos.

Afinal, o destino de todos, indistintamente, é o adormecer eterno.

Todos os que cruzam o nosso caminho trazem oportunidades de aprimoramento. Umas agradáveis, outras nem tanto. É proposital.

O acaso é o disfarce que o destino usa para estrear a peça de cada vida no cenário do, aparentemente, inexplicável.

Mais dia, menos dia, a roda da vida reúne o que se extraviou.





Nenhum comentário: