28 julho 2011

RASTREANDO SENTIMENTOS


Seria extraordinariamente criativo se alguém inventasse um “GPS” para sentimentos, um rastreador de emoções, um localizador de afetos.

De minha parte, adoro rastrear sentimentos usando meu equipamento de pura sensibilidade. Meu instrumental não é eletrônico, dispensa conhecimentos de cibernética ou tecnologia aplicada e tudo o mais que perambula nas dimensões do universo digital.

Na maioria das vezes, evocamos memórias. Pode ser um aroma, uma imagem, um som, um lugar, um rosto, uma silhueta que servem de detonador para disparar uma lembrança, e outra, até terminar com a evocação completa do passado, prática tão peculiar na existência humana. E a soma dessas lembranças traz à tona sentimentos múltiplos e diversificados.


Aliás, rastrear sentimentos é ato simples. Requer somente prática, habilidade e coragem. Rastrear sentimentos é desembrulhar um pacote de emoção amarrado com fios invisíveis a que modernamente denominam de ”wireless”.

Abro os olhos para a manhã que chega e a interação se inicia independente da minha vontade. Leio um e-mail e penetro na alma de quem me escreveu como quem se instala sem mais essa ou aquela no íntimo alheio. Reconheço um sentimento envolto nas entrelinhas. Uma saudade. Uma alegria. Uma vitória. E com esses sentimentos descobertos vou desnudando meus próprios sentimentos.

No caminho para o trabalho cruzo com fisionomias tantas, olhares contidos, testas franzidas, sorrisos velados, passos apressados, ombros caídos plenos de recados implícitos (e, às vezes até, explícitos). Sentimentos compartidos que se espalham no meu território, procurando espaço para se acomodarem.

Rastrear sentimentos é se permitir a descoberta do outro na intimidade que a percepção permite sem conotações de invasão de privacidade.

Rastrear sentimentos é determinar latitude e longitude de quem está junto ou longe. “Penso em ti e dentro de mim estou completo. O amor é uma companhia” (Fernando Pessoa). Somos capazes de vencer distâncias, tempo, chuvas torrenciais, nevascas, montanhas e planícies para assimilar sentimentos esparsos, dispersos por vias outras que não as do nosso convívio. E nisso reside o extraordinário detalhe do mecanismo de percepção que nasce conosco, implantado como um “chip” e que nos possibilita perscrutar os insondáveis escaninhos das emoções em suas amplas manifestações.

E aos sentimentos novos cabe o mérito do resgate daquilo que em nós, vez ou outra adormece.

Na descoberta de uma amizade, de um afeto, de um amor reabastecemos nosso acervo de sentimentos. Sentimentos inaugurais sempre bem-vindos.

E, quando que se fala em estréia, surge a ideia de que algo novo está para acontecer. Uma inusitada gama de elementos conspira para que o movimento se suceda em contínuo e inédito resfolegar.

O palco ainda permanece com suas cortinas fechadas e a ansiedade da platéia não é menor do que a dos atores. E assim é com o cotidiano da humanidade. Cada dia uma nova perspectiva de inauguração. Inauguração de metas, de conquistas, de surpresas, de rastreamento de inéditas emoções e sentimentos recém chegados.

Estrear sentimentos é tão gratificante quanto rastreá-los.

Nenhum comentário: