27 setembro 2011

MANIA

Virou mania. Selecionar, copiar, colar, salvar, apagar. Palavras, imagens. É só pressionar as teclas certas e, pronto! Fica tudo arquivado no disco rígido da memória da ferramenta mais utilizada pela civilização atualmente. E, quando há o arrependimento de “salvar”, se apaga.

Penso que a concorrência com o telefone celular é parelha. Mas no que me diz respeito, uso muito mais o computador.

Voltando ao que interessa; impossível deixar de lado as facilidades advindas do progresso com esses instrumentais que tornam o cotidiano mais fluído e rápido. A questão é não contestar os meios, mas questionar os fins, apesar disso.

E lá vou eu de novo armando mil e uma conjeturas sobre a geração de agora. A geração do “copia” e “cola”. Constatação isenta de crítica. Constatação pura e simples.

De repente, não mais que de repente, pode ocorrer a mesma situação com as emoções, os sentimentos. Copiar alegria, colar saudade. Salvar desencanto, apagar tristeza. E por aí seguem meus pensamentos, enveredando pelos labirintos dessas almas jovens e criativas.

Por exemplo, quando o tema é amor, fica muito mais interessante tal procedimento. Meus caros leitores, os amores são, há amores vãos e amores vão. Afetos somem no arquivo de invisíveis. Assim pensa a maioria dos mortais. Só para os poetas e filósofos a ótica é bem diversa. E sem sombra de dúvida, asseguro que a memória é capaz de realizar milagres.

Noutro dia alguém perguntou: - “Como salvar em nós o que não existiu?”.

Respondi: Basta saber que ali está o que nunca existiu... ou melhor, o que nunca aconteceu. Aquilo que não se concretizou tem um peso maior do que o próprio tempo. Tempo que encarcerou os sonhos e, sem querer, afivelou emoções e as costurou para sempre em nós. Basta você ter sentido, por um segundo, qualquer emoção, ela passa a fazer parte do seu acervo. Amores do passado têm o hábito de permanecer no presente. Inexiste tecla que os faça desaparecer. Ficam. Simplesmente, ficam porque não morrem por si mesmos. Morrerão conosco tão somente.

O mecanismo de “copiar” e “colar” nada mais é do que a repetição do que nunca deixou de existir e que, displicentemente, fica plasmado como parasita. Implícito, silencioso, sorrateiro. Ali, no âmago de cada um, repousam mistérios, muitas vezes, insondáveis.

Cuidado, amiga(o) com o que você seleciona, copia, cola e salva. Previna-se da mania de salvar tudo automaticamente. Muita cautela com o que você faz com os sentimentos porque eles não apreciam ser copiados ou colados. São exclusivos e únicos. Eles se auto salvam onde querem e como desejam.

Admito que ,se tem que levar em conta, também, que o inevitável é taxativo. Acontece. E há que se saber lidar com o imprevisível e irremediável. Mas fora isso, precavenha-se da mania de arquivar o desnecessário e evite o costume de passar do imaginário para o real.

Antes de teclar, assegure-se de estar selecionando acréscimos e não subtrações.

Deixe a vida exercer o seu ofício de surpreender, de trazer o novo a cada manhã, de proporcionar o inédito da criatividade pessoal..



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