24 janeiro 2012

CONTÊINER


Ao longo do aprendizado de viver se acumulam lições das mais variadas. Depende do grau absorção, da oportunidade aproveitada, do esforço despendido, da fertilidade da alma, mas sem sombra de dúvida, dia a dia vai-se guardando uma considerável carga de sensações e de percepções. Independe de idade, de gênero, de posição social. A aquisição de experiências é generalizada, pródiga e abundante.


Ao início bastam envelopes e folhas de papel para o registro dos primeiros passos na travessia de existir. Mais adiante se passa a precisar de mais espaço e pequenos pacotes acomodam grandes estágios de evolução. De repente, se percebe que é necessário dispor de malas para alojar a imensa bagagem adquirida aos trancos e solavancos.

Trabalho de garimpagem se torna imprescindível para separar o útil e agradável do que é dispensável e nocivo.


No entanto, apesar desse processo de desintoxicação, ainda resta uma imensa carga a ser transportada. Carga que exige o espaço de um contêiner. Carga que se agrega a alma e se insere como prolongamento de nós mesmos. Impossível apartá-la do que somos. Em qualquer tempo ou lugar o contêiner se confunde conosco. Diria até que “eu sou eu e meus contêineres”.

E nada é de graça. Se paga um preço muito alto e injusto na medida do tamanho do contêiner que conduzimos. Esse tipo de contendor foge aos padrões do contêiner objeto. É personalíssimo, distinto e intransferível. E dependendo do conteúdo, assusta e afugenta aos demais. Porém, é o risco que se corre ao reverso da vontade.

Ouso dizer que, nos encontros que se proporcionam ao correr da vida, nas relações que se estabelecem a partir daí, acontece, realmente, um ajuste de contêineres. E por ser dificílimo concatenar cargas alheias as nossas, existe tanta solidão espalhada pelo mundo. “É um andar solitário por entre a gente.” (Luis de Camões). Inúmeros desencontros, relações abortadas, uniões desfeitas. Resultados de inadequação de contêineres.

Os entendidos em comportamento humano esbarram com o nariz na porta de contêineres todos os dias em seus consultórios. E sobrevivem. Afinal, são “experts.”.

Quanto a nós, meros mortais, é muito bom saber que possuímos um estoque volumoso de experiências, a despeito e apesar de tudo. Dizem, até, que só se possui a carga que se pode carregar. Então, que venham mais ensinamentos e que “o fardo nos seja leve e o jugo nos seja suave”.

E é quando nos sentimos exaustos com o peso da bagagem que o escudo da invulnerabilidade nos protege e a suscetibilidade se aguça. O que fazemos com a bagagem adquirida é uma escolha entre o cadafalso ou o pódio. Toda a experiência registrada deve ser a conquista de um território e nunca a queda de um império. Que nos aceitem com as circunstancias do contêiner.

Já perdi a conta dos contêineres que possuo. Mas ao contrário do que quero, não consigo esquecer de cada envelope, folha de papel, pacote, mala que fazem parte do meu acervo histórico. Da história que é escrita em mim, registrada em fotos, documentada em posturas, nutrida por emoções e sentimentos que se aninham nos meus ombros e se debruçam nos meus olhos.

Contigo é diferente? Se for, me manda a fórmula do segredo.

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