18 março 2012

AFETO



        Afeto não se compra. É espontâneo. Nasce como veio de água numa curva qualquer da encosta do coração e se derrama em vertente, sulcando o solo da alma. Surge ao acaso, repentinamente, e se apossa do território intangível do querer bem.  De uma maneira tranquila cria elos indissolúveis e invisíveis.  Fortes laços que se sedimentam no tempo e superam espaços.
         Por ser gratuito, o afeto se desvincula de toda a ideia de comercialização. É uma via de mão única, muitas vezes, apesar e além. Independe de retribuição. Impede tentativas de manipulação, pois possui energia própria e se abastece em si mesmo.

         Afeto é, em essência, a alavanca das relações humanas na sua expressão mais pura.
         Gestos, posturas, palavras, silêncios são alguns dos mecanismos de ação e realização do afeto.  Vinicius de Moraes deixou registrado num belíssimo poema: “E posso te dizer que o grande afeto que te deixo, não traz o exaspero das lágrimas, nem a fascinação das promessas, nem as misteriosas palavras dos véus da alma. É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias”.
         Afeto é o sentimento com roupa de domingo porque enfeita a vida, expõe o nosso lado mais bonito, festeja, celebra, distingue.  Afeto, quando demonstrado, é espetáculo de fogos de artifício em meio à escuridão.   
         O afeto é despertado por algum mecanismo de vivência na realidade da convivência, da descoberta do outro e de nós próprios.  Fantástica e imperdível experiência que somos passíveis de protagonizar.
         Salientando que, afetividade é fonte de saúde a preservar, constantemente, num nível de equilíbrio entre a sensibilidade e a percepção do que trazemos na bagagem, se deduz quão significativos são os encontros de “ànema e core”. (alma e coração)
         Somos capazes de transbordamentos de afeto por alguém em especial, por muitos e por tantos quantos acionarem em nós o desencadear do carinho.
         E se desafetos surgirem, isso se justifica: nem sempre se agrada a todos.  Leva algum tempo para que se consiga avaliar posturas e expressões nesse exercício de viver. Algumas desencadeiam afeto, outras nem tanto.
         Misteriosos os labirintos da alma que as emoções percorrem para o aconchego apaziguado do afeto puro e simples.
         O afeto de ontem, de hoje, de sempre. O afeto que surgiu sabe-se lá por que razão, sabe-se lá de onde.  Mas que justifica o sorriso na face, o brilho no olhar e a ternura no abraço.
        
        
          

         

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