18 março 2012

CONSELHEIRO

        Quando o sono debruça meus pensamentos no travesseiro eles se acomodam lentamente e adormecem.
         Dizem que o melhor conselheiro é o travesseiro e complemento a afirmativa, assegurando que, no que me diz respeito, uma boa noite de descanso ilumina o dia seguinte.
         Ao acordar meus pensamentos se espreguiçam, formam fila e se dão as mãos.  Enquanto sorvo as delícias de um café, eles silenciosamente aguardam para se manifestarem.
         Então, um facho de luz adentra pela janela e clareia cada um deles ao nível de uma transparência absoluta e, o que me parecia intrincado e obscuro, preocupações e angústias, se esclarece instantaneamente.
         Os pensamentos se harmonizaram no repouso e em sincronia ocupam o espaço que lhes é devido e inerente.   Um por um, eles começam a conversar comigo.  Ouço atentamente seus argumentos. E resolvo equações de toda ordem.

         Esses momentos matutinos têm especial significado para compor minha jornada diária.  Parece existir um acordo de pacificação entre meus neurônios e minhas emoções de tal modo que à luz do amanhecer o que antes era hipótese se transforma em tese. Ou seja, o que era suposição se transmuda em proposição.
         O “travesseiro” produz tais efeitos ao servir de apoio para nossos pensamentos.  Aconselha, organiza, sereniza. Age com prudência, sabedoria e bom senso necessário. “Se conselho fosse bom não se dava, se vendia” é um dito popular que não se aplica aos conselhos do travesseiro porque ele os oferece gratuitamente, sem ônus algum.
         Pois, em algumas situações da vida, nos sentimos como escreveu Amado Nervo: “Senhor, eu também tenho uma coroa de espinhos. A coroa dos meus torturantes pensamentos”.
         Tantas e quantas vezes somos assolados por incertezas complicadas ao anoitecer que se tornam certezas simples ao amanhecer. Por essas e por outras, decisões não devem ser tomadas à noite.  É ponderado resolver questões, após uma troca de ideias com o travesseiro, ao clarear do dia.
         Desconheço as propriedades intrínsecas desse aparato de descanso, mas tenho constatado que são de grande e inestimável eficácia.
         “Não há nada como um dia após o outro”.  A noite escura acalanta a alma com cantigas suaves e recebe o dia com a suavidade da aurora.
         Depende de mim, depende de ti, construir o dia com o equilíbrio das coisas ajustadas.
         E ademais, “o que não tem solução, solucionado está”. Coloquem-se mãos à obra ao que pode, deve e merece ser resolvido.
         O resto é superficial.  Exceto o travesseiro.

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