18 março 2012

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         Simples frases ditas como que quase num sussurro, em forma de desabafo, são sinalizações vestidas com disfarces e, muitas vezes, passam ao largo da nossa compreensão.
         Algum tempo depois, elas sobem à tona dos nossos pensamentos como bolhas de ar, querendo explodir na atmosfera do real e concreto.
         Entre um gemido e um suspiro expressamos as nossas mais urgentes necessidades.  E quando me refiro a necessidade, quero dizer secretas vontades, urgentes desejos.  De alma, vejam bem!   Não se trata de coisas, de objetos.  Podemos até querer muito comprar um carro, viajar para as Ilhas Gregas, adquirir um imóvel, publicar um livro, freqüentar um “SPA” mensalmente.  Nada disso é tão significativo quanto o é a aspiração íntima que guardamos no mais secreto escaninho dos nossos sonhos.
         Na verdade, o que queremos com todas as forças é ter alguém com quem possamos conversar.  Parece simples?  Engano seu.

         Esse mundo em que proliferam os meios de comunicação cada vez mais acelerados, divulgados, propagados, por irônico que venha parecer, carece de comunicação interpessoal intrínseca.
         Precisamos conversar.  Trocar opiniões, fazer desabafos, ouvir confissões, elaborar planos, partilhar sensações, reconhecer emoções, rir em conjunto, chorar em comunhão.
         As almas precisam dar as mãos para completar suas idéias.  Por essa razão, ler é viajar no universo do outro e é quase conversar.  Aventura extraordinária que é feita em absoluto silêncio.    Mas o que redijo aqui agora é a manifestação clara e pura de uma vontade unânime que não dispensa a voz.  Vontade de ter com quem conversar em alto e bom som.
         E, se tenho a ousadia de desmascarar essa solidão de vozes que se comunicam na superfície do dia, é porque sinto necessidade básica de conversar profundamente.
         Se fizermos uma viagem regressiva aos bons momentos e as lembranças agradáveis e marcantes das pessoas que cruzaram conosco, iremos descobrir que ficaram indeléveis as presenças dos que conversaram de fato.  Podemos ter esquecido de grandes amigos, afetos, amores.   Entretanto, impossível é apagar os momentos de profundo diálogo que partilhamos com alguém.  Nunca mais esquecemos e ficamos buscando essas conversas pela vida afora.
         E penso naqueles que são privados dessa partilha e jamais tiveram um instante de verdadeira conversa.
         É importante vencer as batalhas do dia, realizar tarefas, elaborar projetos, realizar objetivos, concretizar os planos.  No entanto, de nada adianta tudo isso se não tivermos com quem realmente conversar.
         A sensação de vazio que nos acomete é imensa e assustadora se nos falta o compartilhar.   Precisamos ter com quem falar a respeito dos nossos sucessos e fracassos.
         Aliás, esse é o implícito desejo de cada um e de todos, em todas as idades e em cada fase da vida. Decorrência óbvia de ser humano, social e sociável.
   
      

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