Sou
aquela que compreende, lê nas entrelinhas, aceita silêncios, justifica
omissões, perdoa deslizes, põe “pano quente”, faz de conta que não dói, segura
o choro, esconde problemas, disfarça angústias, finge que está tudo bem.
Tudo começou quando descobri que gerava
em meu ser, um outro ser. Desde então, li tudo o que estava ao meu alcance
sobre bebês. Precisava aprender o que eu não sabia, necessitava me valer de
ensinamentos, além dos que me eram passados pelos mais experientes.
De repente, depois de algumas dores e
gemidos recebi em meus braços, a dádiva da vida, choramingando entregue aos
meus cuidados. E fui abençoada por três momentos desses: tenho três filhos.
A partir daí, me vi debruçada sobre
berços em madrugadas extensas, despertada num passe de mágica pelo sexto
sentido, aproveitando ao máximo a ventura de aconchegar no colo aos filhos que
Deus me permitiu receber. Não havia mistério, nem cansaço, havia descobertas e
alegrias.
Acalantei
gemidos de desconfortos, velei sonos pelo prazer de contemplar a serenidade,
visitei pediatras mensalmente, agarrei firme para a aplicação das vacinas,
assisti ao primeiro sorriso, segurei as mãozinhas nos primeiros passos, sorri
de felicidade na primeira batida de palmas, medi febres, ministrei remédios em
joelhos esfolados, consolei desapontamentos, apaziguei disputas, cooperei na
alfabetização, ajudei a decorar a tabuada, cobrei bom desempenho nas tarefas do
colégio, fui a um sem número de reuniões nas escolas, participei de
piqueniques, de gincanas, de festas juninas, de bailes infantis. Assisti a apresentações teatrais, a
invernadas do CTG, a jogos de futebol, a partidas de tênis, a aulas de natação
e de judô. Foi uma grande aventura
partilhada passo a passo, mão na mão, coração a coração. Que benção!
Eles cresceram e foram acometidos pela
epidemia da adolescência. As preleções eram constantes, exaustivas e extenuantes
no que me competia. Acredito que fui muito exigente, apesar de ter a melhor das
intenções. Na idade da contestação meus argumentos exigiam firmeza e bom senso.
Algumas imposições úteis foram boas ferramentas. Tinha horário para sair e para
voltar. E era exigido, além do mais, dizer com quem e onde estariam. Foi uma tarefa árdua a de manter as rédeas
curtas e o leme do barco. Melhor pecar
por excesso do que por omissão. E eu sabia que a responsabilidade do êxito ou
fracasso era só minha. Cumpri a risca cada detalhe. E tive a graça de obter
sucesso. A epidemia cumpriu seu ciclo e sumiu.
Depois, veio a fase dos
aconselhamentos, das respostas às dúvidas, do questionamento sobre os projetos
e os planos. O momento das compressas em
feridas de desencanto e desapontamento. O instante da vibração pelas conquistas
e do choro santo e riso farto pelas vitórias.
Que missão é essa que nunca acaba,
mesmo com os filhos adultos, graduados, exercendo suas profissões, morando em
lugares distantes, vivendo longe do alcance do olhar, do abraço?
Por que permaneço sendo arauto de
pensamentos adivinhados, ininterruptamente? Onde fui buscar forças para aquela
entrega irreversível? De onde surge a energia para prestar auxílio sempre com
um sorriso de boa vontade estampado no rosto?
Por
fato divulgado e conhecido, sou a que está sempre ao alcance quando se faz
necessária. Cansaço, fome, sono, comodismo são situações que se anulam no
instante em que me chamam: Mãe! Porque mãe é sinônimo de alicerce, de
segurança, da confiança, de abnegação.
Impossível negacear o AMOR!
Ser mãe é para sempre. Não tem limite
de tempo ou de espaço. Ser mãe é partilhar uma fresta da eternidade e se
alimentar do manjar dos anjos. Ser mãe é ir além e através do plano físico. Ser
mãe é dom que Deus partilha com as mulheres, mesmo que elas não tenham ideia do
tamanho da missão que lhes é confiada.
As que têm noção e abrem os braços, sem
medo de arcar com o ônus e o bônus, são premiadas com a felicidade que dura
para sempre. Sou uma delas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário