SEGUNDAS INTENÇÕES
Lugar comum discorrer sobre primeiras
ou terceiras. Em algumas situações, o que vem à tona como o estopim de um
cartucho de dinamite, num relance, é o conteúdo das segundas intenções. E
necessariamente, não se precisa ser um “expert” em percepção para descobrir a
alusão concreta, sutil e plena de interesse subjetivo embutida nas boas
intenções.
Noutro dia, me perguntaram qual o
significado da expressão: “não dar ponto sem nó”. É o mesmo que “não pregar prego sem estopa”,
que significa não agir em favor de
alguém a não ser para receber algo em troca ou ter alguma vantagem.
Quero crer que
desse jogo de interesses, apenas participe quem aprecia negociações de âmbito
material pois, no que se relaciona a convivência de afeto, nenhum lance
prescinde de gratuidade.
Aliás, afeto
não se compra e, muito menos, se vende. Mas há comportamentos em contrário, por
parte dos que se opõem a acreditar que são merecedores de afeto. Tentam comprá-lo
a qualquer custo. Creem firmemente, que afeição é uma mercadoria palpável ao
invés de reconhecer que sentimentos são intangíveis. Negociam companheirismo a
peso, como artigo de mercado, colocando preço no que é incalculável.
Outros, sabem
que parceria é sinônimo de cumplicidade. Não rima com lucro. O proveito, no
querer bem é mútuo e altruísta. Pobre de quem visa vantagem no amor, nas
amizades. Pouco recebe de solidariedade e verdade; menos oferece de sinceridade
e sustância. Constrói afeição sobre
areia movediça e acaba por conviver com a própria mesquinhez na descoberta da
solidão.
Khalil Gibran,
um dos meus escritores prediletos, no livro O profeta, fala sobre a amizade e o
amor: “E que não haja outra finalidade na amizade a não ser o amadurecimento do
espírito. Pois o amor que procura outra coisa a não ser a revelação de seu
próprio mistério não é o amor, mas uma rede armada, e somente o inaproveitável é
nela apanhado.”
Na planície
dos sentimentos é inconveniente obter vantagens, além do próprio afeto genuíno
e único. Melhor deixar que o tempo e o vento desenvolvam sua tarefa de
sedimentar o bom e o belo na alma de cada um, naturalmente.
A
identificação aproxima os afetos. Reconhecem-se, em meio à multidão, com as
mesmas dúvidas, similares desejos e sonhos. E, dessa descoberta, a semente é
plantada na terra lavrada e fértil da alma, de onde nascem árvores de tronco
forte e raízes profundas. Os frutos são colhidos em festa e repartidos entre
risos e lágrimas, porque é disso que o amor é feito: de livres emoções.
E, que todos
sintam prazer em voltar para tua companhia, por livre e espontânea vontade para
a festa da boa colheita, de mãos abertas, braços estendidos para o abraço, sem
segundas intenções.
Um comentário:
Lindo Maria Alice! Amor incondicional, livre e próspero.
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