BRAÇOS E ABRAÇOS
Maria Alice Estrella
Assisto, através das redes virtuais,
essa época de tantas confraternizações entre grupos de trabalho, companheiros
de atividades das mais variadas, colegas de grupos musicais, de artesanato, de
benemerência e por aí vai..., que celebram a proximidade do Natal com trocas de
presentes, de risos, de brindes com champanhe, churrascos, jantares e o que
mais puder ser incluído para festejar.
Apesar de ser lida aos domingos por
muito mais pessoas do que imagino, ou seja, entro porta adentro de inúmeros
lares com meus escritos dominicais publicados no jornal, sem o mínimo
constrangimento, invadindo pensamentos e partilhando emoções, não participo dos
tais congraçamentos natalinos.
Percebi isso agora. Sou mera
espectadora, relatando impressões.
Deva-se ao fato de que minha
sociabilidade ser assimilada por um grupo extenso cujas similaridades me
envolvem no plano do etéreo onde as palavras plasmadas no papel estabelecem
pontes invisíveis.
Parece que o anjo que habita em mim
desperta e espreguiça suas asas, ampliando o espaço que ocupo para que eu possa
estender meus braços em direção aos semelhantes na comunhão do amor amplo,
geral e irrestrito de uma forma peculiar, através dessas linhas.
Alguma
coisa acontece para além das luzes brilhando nas casas, das ceias festivas, dos
pacotes coloridos colocados debaixo das árvores, das orações e cânticos frente
ao presépio.
É
algo mais. No abraço de Natal está o melhor de cada um. No instante em que o
calor do afeto se entrelaça mesclando sentimentos de confraternização tudo o
mais silencia. O que se ouve é a voz que vem de coração para coração, de alma
para alma.
O Menino envolto em panos numa
manjedoura nasceu e está vivo para sempre.
Natal é reconhecer esse Amor e fazer dele uma constância no cotidiano,
enquanto pudermos nos abraçar nos Natais nossos de cada dia.
Os abraços de Natal são muito fortes e
firmes apesar da ternura que encerram. Eles expressam o que as palavras
dispensam. Seu significado é indizível.
Com esse abraço deveríamos abraçar e
ser abraçados a cada dia porque a cada dia nascemos de novo. Assim como o
Menino na manjedoura.
Espero que o anjo que existe dentro de
cada um não adormeça no dia seguinte para que o fenômeno do amor natalino se
estenda à realidade de todo o ano.
Em cada celebração do Natal, parece que
em volta do planeta Terra surge uma auréola de congraçamento e uma onda
gigantesca de amor invade os lugares mais remotos, unificando a aldeia global.
O
Amor que quer sobreviver às dificuldades, aos atropelos, ao desânimo. Ele deseja permanecer apesar, acima e além
das nossas limitações. Além das celebrações restritas a pequenos grupos. Acima
dos círculos exclusivos. Através da distância do palpável e real.
Como
escreveu Vinicius de Moraes;
Subamos!
Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse física dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.
Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse física dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.
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