Descobriu-se
silenciosa. Coisa que fugia a
normalidade porque os ruídos sempre estavam agregados a sua figura
extrovertida. Alguma coisa de diferente
estava ocorrendo no lado de dentro.
Talvez, um defeito no sistema de sons ou, uma acomodação nas camadas
internas.
Quando a alma se exila do corpo e fica
silente e fala pouco, anuncia, sem alarde, que está amadurecendo.
De qualquer forma, a sensação de serenidade e
de paz era, sem dúvida, alarmante.
Amadurecer é fantástico, mas traz junto uma
espécie de medo de ser. De ser perspicaz
e de agir com equilíbrio condizente com o percebido.
Crescer é natural. Amadurecer requer anos de prática. Amadurecer é deixar de lado as desnecessárias
preocupações e valorizar a inevitável realidade. Adequar-se ao todo, amplo, geral e
irrestrito, é característica primordial de quem amadurece.
A
idade não importa. O processo se
desencadeia independentemente de faixas etárias. Existem milhares de moços velhos e velhos
moços.
Amadurecer é tornar-se coerente com o que
se é e o que se tem.
E, de repente, o que se tem é o exílio. Uma
saída estratégica e necessária para reabastecer energias, assimilar
descobertas, repensar a vida.
Assim estava ela. Sentindo-se exilada de si mesma, num lugar
distante, vendo-se de longe, observando-se com a ajuda de lentes especiais.
Afastada de suas limitações corpóreas, sua
silhueta era mais visível. Capaz de
vislumbrar sua própria imagem no distanciamento de si mesma, alcançava o alto
da montanha na sua ilha deserta.
Ali, as respostas estavam à espera e, uma
a uma, se revelavam com a precisão de um relógio suíço.
O silêncio se justificava. Quando a verdade surge, tudo o mais perde o
sentido.
Daqui em diante, as palavras começarão a
aparecer vestidas de sabedoria e sairão à rua com passo calmo e temperado.
A causa é desconhecida. Talvez, a subida na montanha do exílio. Quem sabe, a chegada do discernimento e do
bom senso.
Readquiriu o direito à cidadania no
território de si mesma e reassumiu a posição na estrutura de sua vida.
Ela sabe que o estágio é fértil, assim
como o de uma árvore madura que abriga com sua sombra e perfuma com suas
flores.
O exílio serviu como adubo e, agora, é só
colher os frutos.
Vez ou outra, ela voltará à montanha
porque novas verdades podem estar surgindo e é imprescindível conhecê-las.
Pensando bem, exílios são comuns e
rotineiros. Às vezes, o que acontece é o
desconhecimento do que significam em sua essência.
Ao contrário do exílio da pátria, o
exílio de nós próprios é voluntário e muitas vezes, mais do que oportuno e
necessário.
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