08 outubro 2018

EXÍLIOS



           Descobriu-se silenciosa.   Coisa que fugia a normalidade porque os ruídos sempre estavam agregados a sua figura extrovertida.  Alguma coisa de diferente estava ocorrendo no lado de dentro.  Talvez, um defeito no sistema de sons ou, uma acomodação nas camadas internas.
          Quando a alma se exila do corpo e fica silente e fala pouco, anuncia, sem alarde, que está amadurecendo.
          De qualquer forma, a sensação de serenidade e de paz era, sem dúvida, alarmante.
          Amadurecer é fantástico, mas traz junto uma espécie de medo de ser.  De ser perspicaz e de agir com equilíbrio condizente com o percebido.
          Crescer é natural.   Amadurecer requer anos de prática.  Amadurecer é deixar de lado as desnecessárias preocupações e valorizar a inevitável realidade.   Adequar-se ao todo, amplo, geral e irrestrito, é característica primordial de quem amadurece.
          A idade não importa.  O processo se desencadeia independentemente de faixas etárias.  Existem milhares de moços velhos e velhos moços.
          Amadurecer é tornar-se coerente com o que se é e o que se tem.
          E, de repente, o que se tem é o exílio. Uma saída estratégica e necessária para reabastecer energias, assimilar descobertas, repensar a vida.
          Assim estava ela.  Sentindo-se exilada de si mesma, num lugar distante, vendo-se de longe, observando-se com a ajuda de lentes especiais.
          Afastada de suas limitações corpóreas, sua silhueta era mais visível.  Capaz de vislumbrar sua própria imagem no distanciamento de si mesma, alcançava o alto da montanha na sua ilha deserta.
          Ali, as respostas estavam à espera e, uma a uma, se revelavam com a precisão de um relógio suíço.
          O silêncio se justificava.  Quando a verdade surge, tudo o mais perde o sentido.
          Daqui em diante, as palavras começarão a aparecer vestidas de sabedoria e sairão à rua com passo calmo e temperado.
          A causa é desconhecida.  Talvez, a subida na montanha do exílio.   Quem sabe, a chegada do discernimento e do bom senso.
          Readquiriu o direito à cidadania no território de si mesma e reassumiu a posição na estrutura de sua vida.
          Ela sabe que o estágio é fértil, assim como o de uma árvore madura que abriga com sua sombra e perfuma com suas flores.
          O exílio serviu como adubo e, agora, é só colher os frutos.
          Vez ou outra, ela voltará à montanha porque novas verdades podem estar surgindo e é imprescindível conhecê-las.
          Pensando bem, exílios são comuns e rotineiros.  Às vezes, o que acontece é o desconhecimento do que significam em sua essência.
          Ao contrário do exílio da pátria, o exílio de nós próprios é voluntário e muitas vezes, mais do que oportuno e necessário. 


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