08 outubro 2018

CONTÁGIO


          Cheguei com a alegria na bolsa e um sorriso nos lábios.   Lembro que havia luz do sol, entrando pela janela e muitos conversavam num entremeio de vozes misturadas.  Dei bom dia e alguns responderam.
          Lentamente, fui sendo tomada por uma sensação desconfortável, como se o ar estivesse rareando.  O desconforto foi crescendo e o meu bom humor foi se perdendo, exatamente onde, não sei.
          Tentei encontrar uma razão para essa mudança dentro de mim, assim sem mais esse ou aquele motivo.  Virei meus pensamentos pelo avesso, levantei, caminhei, suspirei.  Nada.
          Depois de ter sido atendida, sai daquele local, com um peso com que não entrara ali.  Estava carregando um mal-estar que não me pertencia.  Porém, se não me pertencia, por que estava tão entranhado em mim?
          Com o passar das horas fui melhorando e recuperei, com muito esforço, a minha caixinha particular com as drágeas especiais de alegria.  Contagiei-me de novo com a minha essência.  E, consequentemente, encontrei a resposta que buscava para justificar aquele anterior incômodo: contágio.
         Como é fácil sermos abalados pelo “baixo astral”.   Eu fui exposta a um vírus de mau humor e sofri o contágio. Talvez, por estar com a “guarda” a descoberto, sem antídoto algum em alerta, me tornei vítima desse inconveniente.
         Sem falar, na tal de competição. Que, diga-se de passagem, é uma praga endêmica. Haja fôlego para sobreviver à cobrança de pedágio pelas peculiaridades que nos pertencem e que parecem incomodar tanto aos outros.
         Desagradáveis posturas que alguns tomam para tentar desestabilizar nossa íntima harmonia como se os nossos talentos fossem ameaças.
         Pois que, nunca nos invejam quando estamos sofrendo, ou frágeis, ou em desvantagem. Invejam-nos por detalhes: o modo de sorrir, o jeito de falar, a maneira de caminhar, o brilho no olhar, a coragem de ser. Detalhes que compõem nossa silhueta visível e o semblante invisível, também.
         Constato que essa situação vivenciada por mim, não é um privilégio exclusivo.  Somos todos vulneráveis ao contágio tanto do desagradável quanto do agradável e nos deixamos envolver independente de nossa vontade.  A diferença é que o mal contagia muito mais rapidamente do que o bem. E existem muitos vírus perigosos à solta por aí: depressão, pessimismo, grosseria, desânimo, inveja.
         As coisas bonitas na vida nos contagiam também, por certo.  Uma face de criança, um canto de passarinho, a chuva na roseira, o gesto de carinho, um cartão de acolhida, um sorriso sincero, um olhar amoroso.           Frequentemente, o cotidiano me surpreende, também, com situações encantadoras e me contagio indisfarçavelmente com o belo.  
          Entretanto, para aquele outro tipo de contágio, sempre é de bom proveito encontrar um modo de imunização temporária (porque imunização permanente, para isso, não existe), no caso de se pressentir a proximidade de um vírus negativo.
         Usando o bom humor em doses maciças como vacina para um contágio indesejado com muita valentia e carregando uma dose extra de otimismo, vou tentando driblar esses rápidos invasores que aparecem para nublar o meu dia.  Fico prevenida e de olhos bem abertos.  Espero que seja: tiro e queda. (a meu favor, é claro!).

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