RECARGAMaria Alice EstrellaO sinal avisava que era preciso conectar o aparelho no carregador.Obediente, pluguei o cabo e o conectei na rede elétrica.Imediatamente, surgiu a imagem correlata no meu cérebro. Acontecequase sempre assim, dessa forma, a ideia para o texto de domingo. Merosfatos dão origem a pensamentos vários.Bem que eu gostaria de ter vindo ao mundo com um carregador debaterias, desses que acompanham os telefones celulares. Quero muitodescobrir de que maneira me é possível recarregar minha bateria.Os livros de autoajuda proliferam nas estantes das livrarias com mil euma receitas e dicas de como reabastecer as energias desgastadas elaerosão do tempo implacável e dos revezes sem conta.Eu não quero receitas; quero um carregador portátil que meacompanhe noite e dia e reponha as minhas forças cada vez que se façanecessário. E olha que não são poucas! Preciso recuperar o vigor a cadainstante de incerteza, de medo, de expectativa. Nas horas enoveladas entreo sim e o não, entre o ficar e o partir, entre a solidão e a companhia.O consumo de energia corporal e espiritual se identifica com o camporeal e o virtual. Esgoto minhas reservas físicas em exercícios dealongamento e caminhadas. Recupero-me com um banho morno e uma noitede sono bom. Dissipo meu celeiro de armazenamento emocional em sustos eangústias. E ainda não descobri um modo de "calibrar o ar dos pneus"invisíveis.Haja fôlego!Sem recarga fica difícil usar o telefone celular. Muito mais difícilequilibrar o desgaste do corpo e da alma sem via de reabastecimento.Uma das lições que aprendi nessas estreias cotidianas, entre o abrir eo fechar de olhos, é de que não existe passe de mágica ou estalar de dedosque reponha as energias esvaídas.E "tem dias que a gente se sente como quem partiu", como escreveu oChico Buarque. Ninguém escapa dessa sensação, ao menos uma vez na vida.A nítida impressão de que saímos de nós mesmos para algum lugar que nãoexiste. Um vazio de estação de trem quando o ultimo deixou a gare e osilêncio povoa os trilhos.Para esse momento especifico é que desejo intimamente uma recargapotente. Vontade de me plugar numa corrente elétrica que acenda luzes naalma e reabasteça os ânimos. Reanimar o que desfaleceu em mim porexaustão, por uso demasiado.Insisto veementemente na necessidade de se ter um aparelho commecanismos passíveis de recarregar nossas baterias interiores.A energia extraordinária e fantástica de que somos feitos éperecível, infelizmente.Porém, tenhamos nós a idade que tivermos, usamos engrenagenscriativas para repor as forças tão logo nos sintamos ameaçados erecobramos o fôlego, sem nos deixarmos abater por falta de energia. É tiroe queda!E, por arte de uma boa memória surgem os versos de Gonçalves Diaspara contribuir com meu ponto de vista: "Não chores, meu filho, não chores,que a vida é luta renhida. Viver é lutar. A vida é combate que aos fracosabate e aos fortes e aos bravos só pode exaltar."Esse é, sem dúvida, o meu carregador invisível: a coragem.E o teu, qual é?
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