18 maio 2021

GANGORRA


GANGORRA

Maria Alice Estrella

 

         Gangorra é um brinquedo a dois. Indispensável em qualquer praça de divertimento mesmo nas mais modernas.

         Atualmente, a vida está nos colocando numa gangorra. A gangorra de muitas infâncias, de várias juventudes e até de outras idades posteriores.

         Porém, ao invés de estarmos na companhia de algum parceiro amistoso, do outro lado da gangorra está um adversário pandêmico.

          Faço essa associação imediata, quando medito sobre a realidade dos dias de hoje, com o que está acontecendo dentro e fora de nós.

         Estamos descendo e subindo conforme o impulso que conseguimos dar para o alto, enquanto do outro lado vem o impacto do vírus que nos coloca para baixo.

         As reações que ocorrem no nosso íntimo oscilam entre o otimismo e o pessimismo, entre o medo e a coragem, entre a derrota e a vitória.

         Cada dia que amanhece e nos desperta sadios é um ganho. E a noite nos espreita em silêncio na incerteza do amanhã.

         A gente quer encontrar o equilíbrio em meio ao caos que balança nossa alma. Tentamos lutar contra a ansiedade, querendo que o tempo avance em direção a conquista da liberdade de ir e vir, incólumes, protegidos, vacinados.

         Ninguém está passando por toda essa catástrofe livre, leve e solto. Estamos todos numa arca, tal qual a de Noé, no dilúvio avassalador de um vírus que se multiplica e se replica, ameaçando o planeta Terra.

         Todas as faixas etárias da humanidade estão no mesmo barco sob o jugo desse algoz que veio desagregar e desestruturar o cotidiano em que estávamos inseridos, sem a ameaça dessa contaminação invisível e mortal.

         Uma guerra silenciosa se desenrola indiscriminadamente.  Inexistem abrigos contra os ataques que chegam através de gotículas nocivas. As proteções de que podemos dispor são quase as mesmas de um século atrás: as máscaras e o distanciamento.

         E me pergunto onde e como evoluiu a civilização.

         E respondo a mim mesma que evoluímos na área das pesquisas dos cientistas que são aptos a elaborar os antídotos para nos proporcionar imunidade e, de igual forma, evoluímos nos estudos da área da medicina que, através de seus dedicados profissionais da saúde, salvam vidas no front do combate com os cuidados que estão ao seu alcance. E, também, evoluímos na área das comunicações e da cibernética, que tornam possíveis o contato visual e auditivo, aproximando distâncias dos nossos afetos, enquanto aguardamos o contato do toque e do abraço desejado do fundo da alma.

         Estamos numa gangorra, sem dúvida.  Altos e baixos.  Incertezas e esperanças. Solidão e companhia. Real e virtual.

         Melhor não esmorecer e muito menos perder a bússola da confiança de que chegaremos ao porto seguro para pisar em terra firme longe do sobe e desce da gangorra de agora.       


 

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