16 dezembro 2008

PRIORIDADES


Desconheço precisamente em que momento mudou a minha lista de prioridades e redirecionei o ponto de enfoque. Na atualidade, minhas primazias são distintas das que tinha aos 15, 25, 40 anos.
Constato que prioridade varia de acordo com a faixa etária. Os interesses que prendem a atenção ou, melhor dizendo, o que mobiliza na adolescência vai perdendo a nitidez e cede espaço a novos horizontes e a uma diferente escala de valores. As prioridades amadurecem conosco, contrariando a assertiva de que tempo é questão de prioridade. Prioridade é questão de tempo.
Estou longe de afirmar que as prioridades da juventude sejam menos válidas do que as do mundo adulto. Até porque, o instante que se está vivendo é sempre muito pleno de significados. O desapontamento vivido aos 15 anos é tão desagregador quanto o desencanto aos 40. Aos 15, a prioridade é “abarcar o mundo com as pernas”. Aos 40, é “uma coisa de cada vez”. E mais adiante, as prioridades tomam forma de esculturas que o tempo cinzelou.
Atualmente, minhas prioridades são como linhas verticais que seguem uma hierarquia estipulada por meu bom senso. Algumas facultativas, outras obrigatórias. Categorias que sobrevivem em pacífica vizinhança, salvo algumas exceções. Momentos surgem em que uma séria incompatibilidade se manifesta. Existe o que é preciso fazer e o que é possível fazer.
Afora tais contratempos, consigo executar as tarefas prioritárias por dever e por prazer. Imponho regras e estabeleço normas, dentro dos padrões da consciência e do discernimento adquiridos através do aprendizado de vivências e convivências.
Prioridade é ter prioridades.
Prioridade é não deixar para amanhã o que posso fazer hoje. É não retardar o passo porque a vida é célere e se nega a esperar. A vida é preferencial.
Fazendo um retrospecto das minhas experiências, reconheço que houve épocas em que inverti minhas prioridades, para não escapar da regra de ser humana e, portanto, falível. Deixei de lado o mais importante e me prendi a detalhes. Troquei sorrisos por lágrimas, perfeitamente evitáveis. Bati com o nariz em portas que já sabia que não se abririam. Teimei em buscar tesouros sem usar mapas. Deixei o abraço para depois e omiti palavras necessárias. O número um da minha lista era, tolamente, eu mesma. O consolo é que tal fase durou pouco. E, até certo ponto, foi normal e previsível. O único mérito é ter servido como lição.
As prioridades da maturidade são encantadoras e fascinantes.
Coloco meu nome em primeiro lugar, porém com uma perspectiva bem diversa. Prioridade obrigatória é acordar e dar conta das pequenas obrigações rotineiras, é trabalhar para suprir o sustento, é caminhar para preservar a saúde, é sorrir para a vida, é cantarolar e manter o brilho no olhar.
E, paralelamente, prioridade facultativa é amar. Amar na distância e amar na proximidade. Amar a cada minuto com toda a energia. Amar muito para ser capaz de amar e ser amada em plenitude.
Talvez, o mais surpreendente estágio a alcançar na lista de prioridades, seja o de aceitar que os que amamos tenham prioridades inversas e diversas das que esperamos. Difícil e árduo degrau a atingir. Porque venhamos e convenhamos: a maioria dos problemas de relacionamento se situa justamente aí. Nas diferenças de prioridades de cada um. Quanto mal-entendido, tanta desavença surge dessas escalas diferentes de prioridades.
Aliás, prioridade é um diferencial que ata ou desata, que junta ou separa, que une ou desune. Simples seria se soubéssemos como aplicar um denominador comum para apaziguar arestas e concatenar os ideais, sem maiores desencontros e desacertos.
Ter prioridades é assunto muito sério e complicado, desde o momento em que o amor não seja o tópico principal. Talvez, seja o amor a regra básica para o tal denominador comum, desde que seja sentimento real, verdadeiro e “infinito enquanto dure”.
Amemos, pois, enquanto possível e permissível! O resto vem por acréscimo.




Nenhum comentário: