12 abril 2010

DISCUTINDO A RELAÇÃO

Simples frases ditas como que quase num sussurro, em forma de desabafo, são sinalizações vestidas com disfarces e, geralmente, passam ao largo da nossa compreensão. Algum tempo depois, elas sobem à tona dos nossos pensamentos como bolhas de ar, querendo explodir na atmosfera do real e concreto.
Entre um gemido e um suspiro expressamos as nossas mais urgentes necessidades. E quando me refiro a necessidades, quero dizer secretas vontades, urgentes desejos. De alma, vejam bem! Não se trata de coisas, de objetos. Podemos até querer muito comprar um carro, viajar para as Ilhas Gregas, adquirir um imóvel, publicar um livro, freqüentar um “SPA” mensalmente. Nada disso é tão significativo quanto aquela aspiração íntima que guardamos no mais secreto cofre. A vontade de verbalizar, de falar em voz alta, de expor o que sentimos.

Na verdade, o que queremos com todas as forças é manter diálogos. Parece simples? Engano seu.
Esse mundo em que proliferam os meios de comunicação cada vez mais acelerados, divulgados, propagados, por irônico que venha parecer, carece de comunicação interpessoal intrínseca. E a danosa falta de tempo vem corroborar com a dificuldade de encontrar espaço para a tal conversa que fica para depois. Um depois que raras vezes chega a acontecer.
No entanto, precisamos conversar, trocar opiniões, fazer desabafos, ouvir confissões, elaborar planos, partilhar sensações, reconhecer emoções, rir em conjunto, chorar em comunhão, polir arestas, acertar o equilíbrio das relações.
As almas que se relacionam precisam dar as mãos para completar suas idéias.
Se fizermos uma viagem regressiva aos bons momentos e às lembranças agradáveis e marcantes das pessoas que cruzaram conosco, iremos descobrir que ficaram indeléveis as presenças dos que conversaram de fato. Podemos ter esquecido de grandes amigos, afetos, amores. Entretanto, impossível é apagar os momentos de profundo diálogo que partilhamos com alguém. Nunca mais esquecemos e buscamos essas conversas pela vida afora.
E penso, com um rasgo de tristeza, naqueles que são privados dessa partilha e que não têm um instante de verdadeira conversa. Vivem juntos e dialogam tão pouco. Mau sinal.
É importante vencer as batalhas do dia, realizar tarefas, elaborar projetos, realizar objetivos, concretizar os planos. Mas, de nada adianta tudo isso se não tivermos com quem realmente dialogar para compartilhar. Precisamos partilhar verbalmente dos nossos sucessos e fracassos. A troca é imprescindível.
É preciso ressaltar que quando mais jovem, eu desconhecia o poder eficaz e restaurador do diálogo na relação. Perdi boas chances de me realizar por deixar de lado o expor minhas necessidades e vontades. Desconhecia a importância de polir o convívio com a habilidade de um ourives de sentimentos. Eu era a própria inábil. Hoje, reconheço que discutir a relação é querer pontuar, peticionar num arrazoado de motivos que se baseiam, pura e simplesmente, na vontade de equilibrar a relação em proveito mútuo.
Atualmente, discutir a relação é fundamental e a prática constante leva à perfeição, enquanto o elemento mais forte estiver presente: o amor.
É sempre válido “colocar as cartas na mesa”,” os pingos nos is”, arrematar os pontos quando está em questão a saúde e o bem estar da relação amorosa. Quando o amor acaba, porém, não há diálogo que reconstrua ou refaça o que se perdeu.
Enquanto houver amor, discuta-se a relação o mais possível.

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