17 outubro 2010

POSOLOGIA

As alegrias e as tristezas de cada um deveriam possuir posologia específica, ou seja, poderiam, de bom alvitre, invadir a alma em dosagens equivalentes ao que se consegue ingerir e na medida exata do que se quer sentir.

Porém, no cotidiano não existe porção generalizada para engolir o bom e o ruim. Vem cada emoção com sua própria vontade e risco na quantidade que bem lhe apraz e, simplesmente, se instala de mala e cuia na alma da gente.


E a gente nem consegue reclamar do mal ou vibrar com o bem. Temos que aceitar a porção que nos cabe em silêncio, resignadamente.

Dez gotas de alegria ao acordar e uma gota de tristeza ao deitar seria a melhor das receitas pois, ao amanhecer se estaria abastecido de sorrisos para encarar o dia até chegar à noite com sua dose amarga que se digeriria no sono, sem grandes desconfortos.

Ah! Se fosse fácil assim: tudo na dosagem que nos convém, determinada por nós em posologia subjetiva, creio eu que a monotonia do sempre igual tiraria a graça de se viver aos trancos e barrancos, aos solavancos.

Assim com o sentimento bonito a que denominamos de amor. Ele nos é ministrado, segundo o tempo e espaço, em doses desiguais. Quando chega, invade a alma com todas as honras e pompas. Enfeitiça, encanta e deslumbra. Parece até que a alma fica maior e mais bonita. Quando acaba, aniquila e desmorona a alma em esmagamentos dolorosos. Desilude, desencanta e fere.

Do contentamento de amar e ser amado (a) passa-se ao desconforto do desamor, como disse o poeta: “Eu amei e amei, aí de mim, muito mais do que devia amar. Eu chorei ao pensar que iria sofrer e me desesperar... Porque o amor é a coisa mais triste quando se desfaz” (Vinicius de Moraes)

O amor prescinde de dosagem, irrompe como um vulcão desfeito em lavas incandescentes. Envolve os sentidos com a sua desfaçatez e nos mantém, segundo sua vontade, num encantamento intenso.

Na bula do amor, lê-se que é indicado nos casos solidão aguda ou crônica. O amor é um sentimento que renova as energias, multiplica alegrias, une o útil ao agradável, evita a angústia, enfim, é o combustível imprescindível para mover a vida e abastecer a alma.

A posologia não especifica a dose. Diz somente que pode ser tomado de hora em hora ou de minuto a minuto, conforme a necessidade do paciente. As contra-indicações são várias: em situações de ingestão demasiada ou de hipersensibilidade se deve procurar socorro com os entendidos no assunto. (E quem entende desse assunto? Talvez, os pós-graduados em conhecimento de ternura humana. E será possível ser doutor em amor?)

As reações adversas ou efeitos colaterais são, na sua maioria,: calafrios, suor intenso, insônia, choro, perda de fôlego, tristeza, desencanto, estado de choque.

Portanto, todo o cuidado é pouco quando nos aventuramos nas malhas da rede do amor. Podemos nos exceder na dosagem, perder o tino, tentar controlar o que não tem controle. E aí, corremos o risco de chorar muito e sofrer um pouco.

No que se refere ao amor, a posologia correta no momento certo e na medida exata é privilégio de alguns. Todos querem provar do elixir, mas poucos, muito raros são os que conseguem manter a dosagem do início ao fim do tratamento, do sentimento, de amar e ser amado (a) na coerência e na proporção de manter a chama acesa durante os temporais e na calmaria das manhãs.





Um comentário:

Anônimo disse...

Thanks :)
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