29 janeiro 2012

PÉROLA DA LAGOA


Fui descendo a passos largos e leves, como ninfa de asas azuis, a colina dos sonhos antigos.


E revi cenas das vidas que muito amei. Vi rostos e muros, separando alamedas como pedras esculpidas com o cinzel do tempo. Vi sorrisos e aquiescências na sensação de estar sendo observada pelas faces plasmadas nos troncos das centenárias figueiras. Ouvi vozes faceiras, espalhadas pelas margens do arroio deslizante. Voei sobre a lagoa que, em carícias de vento, guarnece de pérolas os contornos da praia.

E num encantamento que vence o espaço, segui por entre as nuvens até alcançar as estrelas das noites serenas e, incrivelmente, belas desse recanto do mundo onde aninho meu coração quando a saudade adentra a alma.

São Lourenço do Sul. Pousada à margem do Mar de Dentro num jeito próprio de ser e de estar, tal qual guardiã de tesouros que só o olhar alcança.

Por essas artimanhas da vida, a visitei pela primeira vez quando tinha 8 anos de idade, no período de férias escolares. A viagem de ônibus desde Porto Alegre (cidade onde nasci e vivi por 20 anos) durou por volta de 6 horas.

Meu pai passara grande parte de sua infância ali e ficara apaixonado pelo carisma que emana de cada recanto, de cada pedaço de chão, de cada curva do arroio, de cada mergulho nas águas da Lagoa dos Patos. E, consequentemente, desejava que as filhas partilhassem desse fascínio.

Lembro bem do hotel onde nos hospedamos. Memoráveis momentos. Tudo muito simples. Tudo muito bom. Tanto que, até hoje, consigo rever em pensamento com exatidão de detalhes os rostos amáveis que nos recebiam.

Era uma diversão ir à praia. Um ônibus com horário marcado saía da cidade rumo ao balneário num trajeto que demorava 30 minutos. Contornava ruas de terra batida e com alguns solavancos, de repente, se descortinava o horizonte riscando as águas e o céu. A alegria imensa da garotada de poder correr pelas areias era um grito de liberdade. A tranquilidade era dona e senhora daquele território. Também pudera! Já lá se vão 54 anos. Século passado. Outra era. Época histórica de um mero acervo de memórias.

Ao longo da praia, casas se enfileiravam numa calçada com alameda de árvores que, ainda hoje, permanece para deleite de todos. De resto, poucas moradias de veraneio se espalhavam aqui e ali.

Quando as férias acabavam, voltávamos para Porto Alegre com a esperança de retornar no ano seguinte e, assim foi, desde então. Eu, também, me rendi aos encantos da Pérola da Lagoa.

Poucos dias atrás fui mergulhar nas suas águas e me deixei embalar pelo vento, roçando o arvoredo. Fiquei em quietude como quem entra em um santuário e reabasteci minhas energias nesse retorno que se faz às raízes do coração.

Constatei que a beleza aumenta a cada vez que a revejo. A sensação de que o tempo burila e esmerilha sua silhueta, apesar dos vendavais, das catástrofes que a desfiguraram, chega a ser palpável. A Pérola da Lagoa é uma brava e vencedora guerreira.

É óbvio que a evolução dos tempos traz mudanças de hábitos, costumes e o grande segredo para bem viver é a adaptação necessária e coerente ao novo e ao atual. A cidade aumentou, o balneário cresceu, consideravelmente. A população, por via de consequência, é de boa estatura em todas as faixas etárias e tenta unir o útil ao agradável para proveito geral. Desejo que prospere sempre e mais em todos os sentidos.

Afinal, São Lourenço do Sul, paraíso ao alcance de quem quiser, quem vier, é um colar de pérolas que Deus empresta para enfeitar a alma da boa gente que reside nesse pedaço de terra e a de quem se aquerencia ao conhecê-la.

2 comentários:

Anônimo disse...

A Lagoa é nossa riqueza! A energia que nos reabastece diariamente.

bjs
Anne

Dulce Miller disse...

Cidade linda! :D