Tenho
uma proposta a te fazer. Que tal, “fazer
de conta” que nunca nos encontramos, nunca nos vimos, nem fomos apresentados,
muito menos, nos falamos ou, olhamos um para o outro?
Voltemos no tempo para buscar aquele instante
mágico em que nos cruzamos, displicentemente, para cristalizá-lo como um vitral
de alguma catedral. Que fique na memória
de um passado desconhecido a nossa história de amor que não aconteceu.
Assim,
poderemos fazê-la primeira e única, finalmente.
Marquemos encontro num ponto qualquer:- um
“coffee shop”, uma rua íngreme de Porto Alegre, uma pousada em Gramado. Pode ser ao acaso e pode
ser proposital. Tanto faz, desde que nos
vejamos.
Entreguemos, pois, ao destino a artimanha
desse encontro.
Nessa nova e inédita história não haverá
silêncios constrangedores, palavras inadequadas, gestos desvairados, ternura
demasiada, cobranças exageradas, ciúmes, incertezas, inseguranças.
Aliás, repetições de outras relações
afetivas ficam, desde já, permanentemente proibidas.
Seremos, estritos e extremamente, coerentes
com o sentimento que, por certo, transbordará de nós, sem remorsos, culpas,
reticências. Principalmente, as
reticências serão dispensáveis.
Saberemos, com clareza, reconhecer o valor
da simplicidade dos gestos e dos silêncios.
A cumplicidade irrestrita e plena será a
tônica desse relacionamento. Melhor
dizendo, dessa paixão. Porque seremos
apaixonados um pelo outro como nunca dantes se ouviu falar.
Teu
sorriso e o meu farão companhia ao brilho dos nossos olhos numa harmonia
singular.
Proponho um começo lento e suave. Seremos
“namorados intermitentes, loucamente se namorando, de vez em quando”, como
escreveu aquele poeta francês, Paul Geráldy.
O fato inegável de estarmos, ainda, vivos
(pelo menos, aparentemente), nos permite a chance de realizar o que,
intensamente, está implícito em nossas peles e almas.
Falando
em intensidade, é esse o fator que desencadeará essa estréia. A intensidade nos
afetos, assim como na vida, é o que assegura e justifica a minha proposta.
Indispensável é crer em ti e em mim.
E dar asas ao sentimento, permitindo o vôo livre no ar
rarefeito da emoção plena.
Quero que nossos medos adormeçam,
acariciados pela firmeza das mãos entrelaçadas. Medo de errar, de ficar triste,
de sentir saudade. Medo de amar até a
raiz da alma e medo de não conseguir arcar com as consequências inevitáveis e
imprevisíveis, mas consistentemente, válidas. Medo de ariscar singrar as águas
do mistério do outro e as do seu próprio enigma. Medo de ficar só. Ah! Esse é o
maior medo. Mas, pensando bem, somos, tu e eu, dois solitários em busca da
verdadeira companhia.
Afinal,
proponho darmos uma trégua ao acaso para que o destino se cumpra.
A
duração, o tempo medido, não importa. O
que se vive está arrolado como testemunha no processo da existência pela
intensidade do que é sentido. Os
momentos são únicos e exclusivos quando são pautados pela força de um idêntico
sentir, de uma parceria de sensibilidades que, às vezes, se encontram apenas,
através de uma página escrita e lida sem maiores expansões.
E então?
Onde e quando nos encontraremos pela primeira vez como enamorados?
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