Elas têm nomes, mas não é o nome que as
distingue. Muito mais, o que as diferencia é o “clima”, as feições que cada uma
das ruas por que se passa, principalmente, na infância e na juventude, espalham
até hoje em detalhes e decorrentes lembranças.
As ruas nos deixam como herança seu
próprio ritmo no compasso dos nossos passos, das brincadeiras de fim de tarde
nas suas calçadas sossegadas (hábito que desconhecem as crianças da
atualidade), dos olhares trocados em silêncio com aquele menino bonito que
morava na outra rua.
Quando fui convidada para fazer a
locução sobre o histórico das ruas de Pelotas, me deparei com as similaridades
das minhas memórias com as ruas de Porto Alegre. Fiz uma viagem no tempo, percebendo que ruas
têm personalidade, jeito peculiar de estar e de ser.
Deve ter sido por essas e por outras
que Mario Quintana celebrizou seu poema Mapa da cidade, falando das ruas “que
não andei (E há uma rua encantada que nem em sonhos sonhei...)” Pois, o mapa de
cada cidade é delineado pelas veias e artérias que as ruas desenham em seu
contexto e muitas delas escapam por vertentes e deságuam em território
ignorado.
No entanto, aquelas ruas que compõem os
nossos trajetos possuem papel destacado no relato do que já vivemos.
Meu primeiro poema premiado foi escrito
para as ruas de Pelotas e hoje constato que as ruas imprimiram em mim suas
fisionomias de forma indelével. Ainda
lembro do som/ dos passos/ nas calçadas retilíneas/ da cidade/ que eu bem conheço.../ Cresceu
comigo/e caminhamos juntas./ Em cada
esquina/ vejo uma cena/ de reminiscências,/ em cada rua encontro/ pedaços de mim mesma/ como cacos de vidro/ espalhados aqui e ali./ E na minha
imaginação/ vou juntando,/ pouco a pouco,/ cada um deles/ numa viagem de
regresso./ E formo um grande,/ claro,/ transparente vitral de
lembranças.
Afora
isso, já perceberam como nos tornamos íntimos ao nos referirmos as ruas?
Citamo-las pelos nomes de batismo como se fossem personagens da nossa família:
Bento Gonçalves, Pedro Osório, Anchieta e assim por diante. Intimismo que as
ruas proporcionam pela singularidade de estarem inseridas no cotidiano de todos
como parte integrante da paisagem.
E
de lembrança em lembrança, ao me debruçar sobre o teclado do computador para
redigir essa crônica, vi desfilarem frente aos meus olhos algumas ruas
especiais. Ruas de muitas cidades daqui e de outros tantos lugares em que
morei.
As minhas preferidas continuam sendo
aquelas da infância onde brinquei. Mas, me permito destacar outras tantas de
outras épocas que, também, me encantaram e que, ainda, continuam a caminhar
comigo.
De passos é feita a caminhada e por
entre as ruas que passamos ecoam os sons das engrenagens de que é feita a
história de vida de cada um. Sempre uma rua assinala o melhor momento e elege a
mais expressiva recordação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário