Como
se a vida fosse uma escadaria, subimos degrau por degrau no aprendizado de
sentir num exercício de acomodar emoções entre o que somos e o que é o outro. E
a novidade de cada altura alcançada nos ensina, entre acertos e erros, a
desenvolver mais e mais a vontade de atingir a completude do sentimento.
Porque interagir com afeto é como manusear
esses modernos telefones celulares que possuem “touch screen”, ou seja, tela sensível ao toque. Precisa ter perícia
para tocar na tecla certa, para navegar em todos os aplicativos disponíveis. Aos
poucos a necessidade nos obriga a treinar e praticar o bom uso dos celulares e
dos sentimentos, também. No que diz respeito a afeto é imprescindível ter
cuidado ao tocar na alma do outro, ter perícia para ser leve e suave no momento
certo. A habilidade de amar se adquire com a prática.
Em meio a nossas relações, no ímpeto de
fazer o que pensamos ser o melhor, agimos, muitas vezes, de maneira
extremamente desajeitada, entornando o caldo e virando o barco. Como escrevi
num poema: Convidei o amor para cear comigo.
/ Cobrei entrada na porta do afeto; / virei a mesa do jantar da ternura; /quebrei
os pratos do manjar de carinho;/ espalhei cinzas no tapete da compreensão;/
enxotei o gato da cadeira de promessas;/ desfiz a festa da espera com
impaciência;/ sentei num canto do sofá da ausência/ e fiquei só como uma casa vazia./ Não notei
que, ao apagar das luzes,/ um vulto vinha pela rua escura,/ correndo muito para
entregar-me rosas.
A teia tênue que envolve nossas almas é
sensível ao toque suave, sem asperezas, sem felpas, sem farpas. Um pequeno
arranhão e um longo período de tempo para a cicatrização será necessário. Necessário, porém, muitas vezes, ineficaz.
Pois, quando se trata de sentimento, impossível predizer se os erros serão
suplantados pelos acertos ou vice-versa.
Sentir amor é fácil. Amar é bem mais
complexo. De alma para alma uma ponte
pode ser construída, proporcionando livre acesso de bons gestos, palavras
oportunas, cumplicidade, identidade, partilha e tudo o mais que possa fluir de
agradável. Entretanto, (e sempre surge uma alternativa) nessa ponte é provável
que ocorram congestionamentos, engarrafamentos, desvios, imprudências. O encontro no meio do caminho é sempre a meta
que sonhamos atingir.
E se a atingimos, iniciamos a etapa mais
complexa. Acomodar de forma precisa e correta a própria bagagem no
compartimento onde se aloja a bagagem do outro, sem invadir espaços, pisando
leve, falando baixo num desafio que requer aprendizado constante e
ininterrupto.
Presenciei muitos fracassos e poucos
êxitos, mas, ainda, acredito que os aprendizes dedicados podem se tornar
mestres no ofício de amar.
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