03 setembro 2012

APRENDIZADO DO SENTIMENTO




        Como se a vida fosse uma escadaria, subimos degrau por degrau no aprendizado de sentir num exercício de acomodar emoções entre o que somos e o que é o outro. E a novidade de cada altura alcançada nos ensina, entre acertos e erros, a desenvolver mais e mais a vontade de atingir a completude do sentimento.
Porque interagir com afeto é como manusear esses modernos telefones celulares que possuem “touch screen”, ou seja, tela sensível ao toque. Precisa ter perícia para tocar na tecla certa, para navegar em todos os aplicativos disponíveis. Aos poucos a necessidade nos obriga a treinar e praticar o bom uso dos celulares e dos sentimentos, também. No que diz respeito a afeto é imprescindível ter cuidado ao tocar na alma do outro, ter perícia para ser leve e suave no momento certo. A habilidade de amar se adquire com a prática.

Em meio a nossas relações, no ímpeto de fazer o que pensamos ser o melhor, agimos, muitas vezes, de maneira extremamente desajeitada, entornando o caldo e virando o barco. Como escrevi num poema: Convidei o amor para cear comigo. / Cobrei entrada na porta do afeto; / virei a mesa do jantar da ternura; /quebrei os pratos do manjar de carinho;/ espalhei cinzas no tapete da compreensão;/ enxotei o gato da cadeira de promessas;/ desfiz a festa da espera com impaciência;/ sentei num canto do sofá da ausência/  e fiquei só como uma casa vazia./ Não notei que, ao apagar das luzes,/ um vulto vinha pela rua escura,/ correndo muito para entregar-me rosas.
A teia tênue que envolve nossas almas é sensível ao toque suave, sem asperezas, sem felpas, sem farpas. Um pequeno arranhão e um longo período de tempo para a cicatrização será necessário.  Necessário, porém, muitas vezes, ineficaz. Pois, quando se trata de sentimento, impossível predizer se os erros serão suplantados pelos acertos ou vice-versa.
Sentir amor é fácil. Amar é bem mais complexo.  De alma para alma uma ponte pode ser construída, proporcionando livre acesso de bons gestos, palavras oportunas, cumplicidade, identidade, partilha e tudo o mais que possa fluir de agradável. Entretanto, (e sempre surge uma alternativa) nessa ponte é provável que ocorram congestionamentos, engarrafamentos, desvios, imprudências.  O encontro no meio do caminho é sempre a meta que sonhamos atingir.
E se a atingimos, iniciamos a etapa mais complexa. Acomodar de forma precisa e correta a própria bagagem no compartimento onde se aloja a bagagem do outro, sem invadir espaços, pisando leve, falando baixo num desafio que requer aprendizado constante e ininterrupto.
Presenciei muitos fracassos e poucos êxitos, mas, ainda, acredito que os aprendizes dedicados podem se tornar mestres no ofício de amar.








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