Está
tudo muito bom, está tudo muito bem mas "ser feliz é tudo o que se
quer", como diz a canção do Kleiton e do Kledir.
Vou mais longe. O que se quer é arejar
a alma, abrir portas e janelas para deixar que o vento da emoção prorrompa
campo adentro e espaço afora, provocando em nós antigas sensações de uma
estréia que se renove e se repita e nos faça suspirar, estremecer, e
transbordar para além de nossos limites corpóreos.
Existe, atualmente, uma escassez de
envolvimento nas relações de amor. Carência de envolvimento emocional que nos
torne comprometidos com o outro, sem trava de segurança, sem medo de ser feliz,
tenhamos 20, 35 ou 60 anos. A idade da emoção no sentimento é atemporal. E é surpreendente constatar que, em quase
todas as idades, os protagonistas de uma convivência de amor extirpam a emoção
do relacionamento como se ela fosse perfeitamente descartável ou, até mesmo, um
entrave, um impedimento inconveniente.
E da aridez do terreno da alma brotam
espinhos que maltratam e retratam o ocaso do sentimento. Tenho constatado
tantos ocasos que qualquer alvorecer me extasia. Aliás, é mais comum testemunhar o entardecer
do que a alvorada de um relacionamento.
No entanto, insistente e convicta
afirmo que a emoção é requisito básico para irrigar a alma de quem se quer bem.
Mais do que urgente é banhá-la, incessantemente, com doses salutares de
ingredientes básicos, tais quais o de um sorriso cúmplice, de um toque suave de
carícia no olhar, de uma voz sussurrante de carinho, de um gesto inesperado e,
não menos esperado, de um telefonema fora de hora e, ao mesmo tempo, oportuno.
Simples e imprescindíveis atitudes de sensibilidade aguçada, de sintonia fina
com o outro.
Na realidade, a maioria das pessoas tem medo de se envolver no
redemoinho das emoções, porque corre o risco de sofrer. Sofrimento maior é não
se deixar atingir, não se permitir sentir ou, como disse o poeta: “É solitário
andar por entre as gentes" (Luiz de Camões). Pois, ironicamente, o sofrimento maior é a
extrema solidão a que se sujeitam os medrosos, em nome de uma pretensa
imunidade.
Lastimo pelos que associam emoção e dor como complementos de
afeto. Esqueceram que a liberdade de
partilhar o bônus é o ingresso para a festa dos sentidos e que a desejada
isenção de ônus é a ressaca do dia seguinte.
Uma liberta, a outra escraviza.
A escolha é nossa e
as consequências, também.
Melhor é participar
da festa do início ao fim com todos os sentidos, perambulando pela alma
arejada, livre, leve e solta. O resto
vem por acréscimo para deleite dos convidados.
MARIA ALICE ESTRELLA
Nenhum comentário:
Postar um comentário