02 agosto 2013

DE SEMEADURAS E COLHEITAS

           Das missões que me são confiadas ao longo da existência, umas fáceis, outras nem tanto, nunca me descuido do plantio. Faço isso desde menina. Talvez, por ter sido plantada em mim a noção exacerbada do significado de responsabilidade.   Permaneço atenta e fiel ao curso das tarefas que me dizem respeito e, por hábito, infelizmente, acabo por extrapolar para as que fogem a minha alçada de prestar contas.
         No que me diz respeito, continuo cumprindo a missão maior: a de ser mãe.  E, segundo a assertiva: "pelos frutos se conhece a árvore", me regozijo com a colheita nos meus filhos, personagens admiráveis.  Cumpro com meu papel de geradora, protetora, mestra, educadora, amiga, parceira, enfermeira, consoladora, incentivadora, orientadora.  Às vezes, exigindo demais, pecando por excesso, porém, nunca, nem pensar na hipótese, por omissão, por falta, por descuido. 
         Da minha semeadura colho bênçãos de orgulho, de suprema felicidade que meus frutos me proporcionam a cada momento. 
         Sigo cuidando da minha casa de provisões, silenciosamente, como quem pisa leve na alma do bem querer. Essa missão nunca termina. Nem o fim dos dias será capaz de extingui-la porque as gerações me sucedem e nelas existirá sempre o reflexo da minha semeadura.

         E sempre é tempo de arar o campo do coração para que novas sementes, os filhos dos meus filhos, sejam espalhadas no terreno fértil da minha missão de amor. Que o vento traga boas sementes em abundância e as espalhe por entre os sulcos que o tempo esculpiu na minha alma.  A brotação surgirá no melhor tempo, na hora exata. E que venha a nova colheita!
           Colheita de ação de graças, de começo de jornada, de planos realizados, de vontades concretizadas. Quero reunir fardos e fardos de ternura, de abraços, de risos, de cantorias, de danças.  Protagonizo o enredo que é escrito para mim e por mim. A colheita promete bonança porque em momento algum descuidei do meu plantio. 
         Só necessito do vento, da chuva e do tempo. Coisa pouca. Com oscilações climáticas ou sem elas, a semeadura se transmudará em grãos para alimentar meu espírito. O celeiro persistirá repleto, sem lacunas.
         E se, porventura, pela vida afora, tive a pretensão de semear afeto em terrenos alheios áridos, concluo que, se colhi espinheiros de ingratidão, se perdi tempo valioso, se me desvelei em cuidados inúteis, se gastei energia demasiada em missão que não me fora confiada, devo encarar o ônus de arcar com as consequências, extirpando as ervas daninhas com um só golpe reparável de bom senso.
         E de volta ao que interessa, deixando o fugaz de lado, reconheço que        a vida e eu somos companheiras de muitas missões, de perdas e ganhos, de semeaduras e colheitas.  Impossível, consequentemente, me imaginar sem ela.  Essa parceira que se faz poesia em mim, na missão de escrever, descrevendo-a: Como é bom saber/ onde está a fonte das palavras,/ mas o melhor de tudo/ é poder semear algumas delas na terra leve/ do papel-coração./ Depois da semeadura do verbo,/ a colheita traduz o fruto/ na qualidade do sorriso.

         A colheitadeira arrecada e armazena a recompensa na alma-celeiro. É só questão de boa semeadura e de farta colheita.

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