Das
missões que me são confiadas ao longo da existência, umas fáceis, outras nem
tanto, nunca me descuido do plantio. Faço isso desde menina. Talvez, por ter sido
plantada em mim a noção exacerbada do significado de responsabilidade. Permaneço atenta e fiel ao curso das tarefas
que me dizem respeito e, por hábito, infelizmente, acabo por extrapolar para as
que fogem a minha alçada de prestar contas.
No que me diz respeito, continuo
cumprindo a missão maior: a de ser mãe.
E, segundo a assertiva: "pelos frutos se conhece a árvore", me
regozijo com a colheita nos meus filhos, personagens admiráveis. Cumpro com meu papel de geradora, protetora,
mestra, educadora, amiga, parceira, enfermeira, consoladora, incentivadora,
orientadora. Às vezes, exigindo demais,
pecando por excesso, porém, nunca, nem pensar na hipótese, por omissão, por
falta, por descuido.
Da minha semeadura colho bênçãos de
orgulho, de suprema felicidade que meus frutos me proporcionam a cada momento.
Sigo cuidando da minha casa de
provisões, silenciosamente, como quem pisa leve na alma do bem querer. Essa
missão nunca termina. Nem o fim dos dias será capaz de extingui-la porque as
gerações me sucedem e nelas existirá sempre o reflexo da minha semeadura.
E sempre é tempo de arar o campo do
coração para que novas sementes, os filhos dos meus filhos, sejam espalhadas no
terreno fértil da minha missão de amor. Que o vento traga boas sementes em
abundância e as espalhe por entre os sulcos que o tempo esculpiu na minha alma. A brotação surgirá no melhor tempo, na hora
exata. E que venha a nova colheita!
Colheita de ação de graças, de
começo de jornada, de planos realizados, de vontades concretizadas. Quero
reunir fardos e fardos de ternura, de abraços, de risos, de cantorias, de
danças. Protagonizo o enredo que é
escrito para mim e por mim. A colheita promete bonança porque em momento algum
descuidei do meu plantio.
Só necessito do vento, da chuva e do
tempo. Coisa pouca. Com oscilações climáticas ou sem elas, a semeadura se
transmudará em grãos para alimentar meu espírito. O celeiro persistirá repleto,
sem lacunas.
E se, porventura, pela vida afora, tive
a pretensão de semear afeto em terrenos alheios áridos, concluo que, se colhi
espinheiros de ingratidão, se perdi tempo valioso, se me desvelei em cuidados
inúteis, se gastei energia demasiada em missão que não me fora confiada, devo
encarar o ônus de arcar com as consequências, extirpando as ervas daninhas com
um só golpe reparável de bom senso.
E de volta ao que interessa, deixando o
fugaz de lado, reconheço que a vida
e eu somos companheiras de muitas missões, de perdas e ganhos, de semeaduras e
colheitas. Impossível, consequentemente,
me imaginar sem ela. Essa parceira que
se faz poesia em mim, na missão de escrever, descrevendo-a: Como é bom saber/ onde está a fonte das
palavras,/ mas o melhor de tudo/ é poder semear algumas delas na terra leve/ do
papel-coração./ Depois da semeadura do verbo,/ a colheita traduz o fruto/ na
qualidade do sorriso.
A colheitadeira arrecada e armazena a
recompensa na alma-celeiro. É só questão de boa semeadura e de farta colheita.
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