Seria
ideal que toda e qualquer situação ficasse restrita aos seus limites
peculiares, imune aos predadores e que o toque pessoal fosse sempre um toque de
classe dentro do permissível.
No entanto, é mais comum do que se
espera, a ocorrência de invasões inconvenientes, minando e contaminando o que,
supostamente, deveria acontecer em plena harmonia e coerência. Uma extensa
lista de contravenções se estende e se alastra por entre as relações de
convívio e são cometidas numa pueril displicência sem a medida das prováveis
consequências.
Acessos de infringentes sensações e de
corruptas posturas abalam e violam momentos significativos do afeto que deixa,
subitamente, de ser especial.
As transgressões afetivas são,
frequentemente, causadas por equivocados pontos de vista no desconhecimento da
força da Lei da Gravidade. Simples
dedução que me ocorre, por constatar que muitos se iludem ao pressupor que o
centro gravitacional do planeta Terra é seu próprio umbigo e que tudo mais gira
ao seu redor como meros satélites na órbita da circunscrição em que vivem.
Em todos os momentos em que ordenamos
ao invés de solicitar, exigimos ao contrário de aceitar, cobramos em detrimento
de oferecer, nos tornamos culpados por atitudes infringentes em relação aos
nossos afetos.
São infringentes, também, no cotidiano
generalizado, o ódio, o ressentimento, a cobiça, a inveja e todos os seus
derivados e decorrentes. Sentimentos que
se instalam no mais oculto do nosso íntimo e que, muitas vezes, aparecem e se
deixam perceber em rasgos momentâneos e involuntários, desrespeitando o
conceito primordial da obediência ao correto, à conduta exigível.
Sensações infringentes que, sem muita
explicação, vão ocupando compartimentos vazios dentro do peito da gente. Sensações indesejáveis e, às vezes,
inconvenientes. Infratores clandestinos
esgueirando-se pelas nossas veias e correndo misturados ao nosso sangue, que
atravessam o nosso surpreso coração como trovões que rasgam os céus em meio a
tempestades.
Se procurarmos denominá-los,
catalogá-los, decifrá-los, esbarramos no silêncio hermético das coisas
secretas. É impossível definir
sentimentos infringentes que roubam a nossa paz e se acham no direito de viajar
pela nossa alma, completamente impunes de todo e qualquer ressarcimento.
Lastimável saber que os danos causados
são, de certo modo, irreparáveis. Apesar
de possuírem nome e número de identificação, os infringentes sentimentos se
escondem em meio à multidão dos descompromissados com a legitimidade.
E lá vamos nós, exaustos por lidar com
os transgressores, enfrentar a tarefa inócua de julgar, sentenciar e
condená-los, como se fosse possível extirpar os malefícios que nos causam. Queremos encarcerá-los numa masmorra fora de
alcance.
No terreno do afeto, os gestos
infringentes só se extirpam com a solução de continuidade.
Como disse Mario Quintana: "Nada
vibrou/ Não se ouviu nada/ Nada.../ Mas o cristal nunca mais deu o mesmo som/
Cala, amigo/ Cuidado, amiga/ Uma só palavra pode tudo perder para sempre"
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