22 setembro 2013

ROLDANA DO TEMPO



         Sem fazer alusão ao que passou, porque a vida caminha para frente, pincelamos o amanhã despretensiosamente, mesmo sabendo que o pincel e as variantes de cores são fornecidos pelo momento presente. O aqui e agora são nada mais do que alavancas e alicerces.
         A desacomodação do já estabelecido como regra de viver é um processo que exige disposição para renovar, para sair da estagnação do sempre igual. 
          A rotina é uma alternativa cômoda a que nos adaptamos a fim de evitar o desconforto do imprevisto, daquilo que está do lado de fora das nossas confortáveis quatro paredes. Tentamos reter o tempo nas mãos como colecionadores de antiguidades.
          E a percepção de que ficamos mobilizados assusta tanto quanto um quarto escuro desconhecido.  Portanto, daí vem a necessidade de deslocarmos nossos sentidos rumo ao futuro.   Precisamos sair para além dos muros que nos cerceiam. As paredes estão dentro de nós. Mas existe uma porta a escancarar.  Uma porta que permite a alternativa de esticar os horizontes para mais longe, onde a vista não alcança, onde os laços não prendem, onde o incógnito se revela.

         Carregamos algumas bagagens, é verdade, mas se estivermos dispostos a soltar as amarras, levantando ancoras desnecessárias, seremos como um barco que deseja deixar o cais para navegar em calmarias ou vendavais. Haja o que houver, desbravando o momento seguinte, libertados do anterior.
         Ao desenrolarem-se os elos da corrente do tempo, na roldana por onde se esvai o passado e irrompe o futuro, mesmo que não tenhamos o mapa nas mãos, que desconheçamos a melhor escolha para acertarmos o caminho para o lugar a que nos dirigimos, mesmo assim, o movimento tem que acontecer.  O movimento de mutação.   Certa ou errada, a mudança se impõe como um arco que nos lança como flechas para o espaço diverso daquele em que estamos agora.
         Projetar o vir a ser se transforma em exercício de ourives, polindo arestas de uma valiosa pedra preciosa a que chamamos de tempo.
         O inédito espreita em cada curva de rio, em todo detalhe das margens, esperando para acontecer.
         A maior parte dos nossos fracassos se deve a covardia, que nos paralisa e nos impede de arriscar a pele, os sentidos.  Covardia essa que se origina das limitações que nos condicionam a uma postura quase estática. 
          Contingências de espaço e de tempo nos comprimem.  Mas, a decisão é nossa. A mudança é a alavanca que nos impulsiona para outro lugar, que pode não ser o ideal, porém, é o necessário.  Esta é a hora.  O aqui e agora que se transmuda em ali e depois.  O transporte do momento atual para o momento seguinte.          
         O importante é perceber, seja em que instante for, que a permanência é só uma ideia  é apenas uma posição.
         Embora não saibamos para onde nos levam nossos passos, temos que nos deslocar para além e através, deixando rolar a roldana do tempo para o que der e vier, no amanhã que nos espreita e espera como o ator que espia a platéia por trás das cortinas antes do espetáculo começar.
                   
         
          
            







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