Sem
fazer alusão ao que passou, porque a vida caminha para frente, pincelamos o
amanhã despretensiosamente, mesmo sabendo que o pincel e as variantes de cores
são fornecidos pelo momento presente. O aqui e agora são nada mais do que alavancas
e alicerces.
A
desacomodação do já estabelecido como regra de viver é um processo que exige
disposição para renovar, para sair da estagnação do sempre igual.
A rotina é uma alternativa cômoda a
que nos adaptamos a fim de evitar o desconforto do imprevisto, daquilo que está
do lado de fora das nossas confortáveis quatro paredes. Tentamos reter o tempo
nas mãos como colecionadores de antiguidades.
E a percepção de que ficamos
mobilizados assusta tanto quanto um quarto escuro desconhecido. Portanto, daí vem a necessidade de deslocarmos
nossos sentidos rumo ao futuro. Precisamos sair para além dos muros que nos
cerceiam. As paredes estão dentro de nós. Mas existe uma porta a
escancarar. Uma porta que permite a
alternativa de esticar os horizontes para mais longe, onde a vista não alcança,
onde os laços não prendem, onde o incógnito se revela.
Carregamos algumas bagagens, é verdade, mas
se estivermos dispostos a soltar as amarras, levantando ancoras desnecessárias,
seremos como um barco que deseja deixar o cais para navegar em calmarias ou
vendavais. Haja o que houver, desbravando o momento seguinte, libertados do
anterior.
Ao
desenrolarem-se os elos da corrente do tempo, na roldana por onde se esvai o passado
e irrompe o futuro, mesmo que não tenhamos o mapa nas mãos, que desconheçamos a
melhor escolha para acertarmos o caminho para o lugar a que nos dirigimos,
mesmo assim, o movimento tem que acontecer.
O movimento de mutação. Certa ou
errada, a mudança se impõe como um arco que nos lança como flechas para o
espaço diverso daquele em que estamos agora.
Projetar
o vir a ser se transforma em exercício de ourives, polindo arestas de uma valiosa
pedra preciosa a que chamamos de tempo.
O
inédito espreita em cada curva de rio, em todo detalhe das margens, esperando
para acontecer.
A
maior parte dos nossos fracassos se deve a covardia, que nos paralisa e nos
impede de arriscar a pele, os sentidos.
Covardia essa que se origina das limitações que nos condicionam a uma
postura quase estática.
Contingências de espaço e de tempo
nos comprimem. Mas, a decisão é nossa. A
mudança é a alavanca que nos impulsiona para outro lugar, que pode não ser o
ideal, porém, é o necessário. Esta é a
hora. O aqui e agora que se transmuda em
ali e depois. O transporte do momento
atual para o momento seguinte.
O importante é perceber, seja em que
instante for, que a permanência é só uma ideia é apenas uma posição.
Embora não saibamos para onde nos levam
nossos passos, temos que nos deslocar para além e através, deixando rolar a
roldana do tempo para o que der e vier, no amanhã que nos espreita e espera
como o ator que espia a platéia por trás das cortinas antes do espetáculo
começar.
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